Resume-se, no entender do Prof, Freitas do Amaral, na introdução de uma cadeira de Cultura Geral no ensino secundário e justifica que Os alunos vêm do Secundário sem qualquer ideia firme da cronologia (...), que Há cerca de 15 ou 20 anos fez-se uma experiência na Universidade Católica, sob proposta minha: acrescentar às provas de admissão a Direito um exame escrito de Cultura Geral. Os resultados foram tão negativos que teve de se abolir a experiência, sob pena de não entrar quase ninguém...”.
É muito acertado e pertinente o problema que o Professor aborda, logo em título, Crise do Ensino Secundário, mas perante tamanha desgraça, sim, estamos na cauda da Europa dos 15 e arriscamo-nos a passar para o terço inferior da Europa 25, como diz o Sr. Prof., mas qual gesto de mágica a coisa resolve-se com uma cadeirita de Cultura Geral no secundário?
Não, Francisco José Viegas diz bem, O problema é que a cultura geral verdadeira não é uma especificidade mas uma generalidade que resulta do interesse pessoal; esse interesse vem da frequência das «disciplinas do Cânone»”.
Mas como se desperta esse interesse pessoal? A resposta vem pronta, de Aviz, O apelo constante para ceder à mediocridade na escola, na televisão, nos jornais, na vida política, é que destruiu a cultura geral.
Pois é, tem razão o Porfessor, tem razão o Francisco José Viegas, tem razão o Fogotabrase, mas será de ficarmos assim..., por aqui só? Após dezenas de reformas e contraformas cruzamos os braços no meio desta merda que é a educação em Portugal? Foda-se meus desconhecidos amigos , esta merda vale a pena e se não valer, pouco ou nada mais valerá!
De que adianta falar de produtividade, de eficácia e eficiência, de sabermos quem somos, onde estamos, para onde queremos ir, se abdicarmos deste debate. A solução de freitas do Amaral só lembraria à sua geração, é certo, mas a sua apreensão é fantasmagoricamente real, fulcral, aliás!
Só escrevo lençois pr’aqui neste blogue, mas como falar disto sem ser do princípio e devagar?
Que é isso de cultura geral? Para que servirá? Apenas para gozo próprio?
Não haverá uma confusão de conceitos, de significados?
Estou fora, não tenho aqui à mão dicionários nem enciclopédias, mas ainda assim arrisquemos. O espírito do “Ensaio” de Freitas do Amaral na última página desta Visão de 20 de Novembro não é o de falta de cultura geral, talvez falta de informação memorizada o que de forma alguma eu confundo com o significado de cultura. Vamos por passos, a informação é transmitida, o receptor (falamos de alunos) memoriza-a ou não; seguidamente poderá assimilá-la, isto é confrontá-la com outras informações já retidas e incorporá-la, dar-lhe um sentido; depois, sim depois, poderá criar, dar, avançar, sendo este último produto, e só este, um acto de cultura.
Com efeito não existe o conceito de “cultura geral” embora o empreguemos amiúde, existe isso sim, lendo o que Freitas do Amaral quererá dizer, pessoas com mais ou menos informação memorizada a que eu chamo de eruditas, não forçosamente cultas.
Aliás, se o Prof. tentasse a experiência do exame escrito junto dos seus pares se calhar ficaria ainda mais escandalizado! Não duvido que soubessem situar no tempo a Idade Média, a Moderna, A Contemporânea e mesmo as mais distantes, mas se lhes fose perguntado quais as permanências, as mutuções os ritmos de mudança (assimilação da informação que está para além da erudição), o resultado seria deprimente, estou seguro.
Cultura hoje nem se consegue delimitar. Alguém eu seu perfeito juízo saberá definir a Cultura Portuguesa, a Minhota, a Transmontana, a Alentejana, a Europeia? Não, impossível, de multi-culturalidades e de inter-culturalidades se pode hoje abordar correndo o risco de ser um debate sem conclusão definitiva.
Mas será razão para nos afastarmos da busca de uma identificação? Sim, porque antes de tudo o mais a cultura analisável é a globalidade de actos passados que definem determinado grupo e que socialmente o integram, ou não, mas é reconhecível e palpável. Assim não existe uma cultura mas uma interdependência de actos culturais que se cruzam, que se interpenetram, que se completam, que se negam, que nos enformam e formam em grupo.
Daí o anacronismo da Cultura Geral. Veja-se, serão os nosso filhos mais sensíveis aos produtos musicais da MTV ou ao Fausto, à Ronda dos Quatro Caminhos ou aos Adiafa? Infelizmente não temos dúvidas que o que a MTV passa corresponde a 97% das vendas de CD’s nos EEUU e Europa e 93% em Portugal.
E, de novo regressemos à educação, à tal reforma, revolução ou reestruturação se preferirem.
Dos Pais, não vale a pena bater no ceguinho, não vale a pena dizer que são maus Pais, que não querem saber dos filhos. Por aqui começamos, pela noção de família tão cara, pelo menos no passado, ao nosso Professor. Da grande família, avós, pais, filhos e netos, passámos para a família intermédia de avós, pais e filhos, e hoje reduzida, núclear, pais e filhos, que não têm tempo uns para os outros, tentando os primeiros atribuir à Escola as suas próprias atribuições. E não é no secundário, como diz Freitas do Amaral, é desde o fim da amamentação caso ela tenha sido feita.
Cuidam que adiantará dizer aos Pais que têm de ter tempo e disponibilidade para os filhos ou aos professores que não têm de ensinar básicas regras de saber estar e ser com os outros? A meu ver é tempo perdido! Uma luta inglória sem vitoriosos a não ser a marginalidade ou se preferirem, mais digerível, a desinserção social.
Mas se é na Escola, que pode esta fazer? Como, para quê e para onde? Por que caminho? Que temos hoje de certo para o amanhã?
Também não tenho, mas deixo dicas para o caso de pretenderem debater.
Os alunos, desde o básico, estão sobrecarregados de disciplinas, de vários professores que lhes exigem o mesmo de muitas e variadas coisas...! Os alunos sentem-se perdidos nesta generalização da especialidade; a informação passada é de difícil assimilação se não conjugada como deveria ser! Que fazer? Aumentar as disciplinas, as horas de aulas, outra metodologia?
Se se considera que a Escola tem de promover a instrução e sociabilização dos seus alunos (como eu penso), muito há a fazer. Veja-se, falo de sobrecarga e ao mesmo tempo a Escola está ainda muito aquém de prestar o mínimo para uma saudável formação, lembremo-nos da expressão musical, corporal, dramática, pictórica...
Sete, sete disciplinas até ao final do ensino básico: português, matemática, física, química, biologia, informática, humanidades e expressões artísticas. Em humanidades dever-se-ia elaborar um programa que antes do mais transmitesse os valores que nos identificam enquanto cidadãos portugueses, europeus e do mundo, de forma harmoniosa com recurso às ciências geográficas, históricas, filosóficas e línguas estrangeiras. Nas expressões artísticas a Escola deveria estar apta a proporcionar de forma integrada o acesso ao ensino e desenvolvimento das capacidades das artes visuais, da leitura, da expresão musical, corporal e dramática.
Esta é uma ideia, mas uma ideia que obrigaria a Escola a ter mais tempo consigo alunos, que lhes desse oportunidade de procurarem o seu caminho, dando-lhes a conhecer não o devir, mas o que somos. A foma de melhor equacionarmos o futuro é conhecendo o passado e sabermos onde está o presente.
Mas a Escola consegue assumir este papel? De forma alguma, tal como se encontra estabelecida, dividida entre esfregas de espúrios cumprimentos de programas e o desinteresse dos seus pupilos. Mas porque carga de água é que os Ministérios da Educação e da Cultura gastam os nossos dinheiros sem o mínimo de coordenação entre eles? Num momento de penúria não serão os mais jovens a esperança que devemos e temos obrigação de acarinhar?
E, ainda assim, mesmo que os pais apoiassem este projecto escolar seria possível alcançar tais objectivos? Não de forma alguma pelo motivo que Francisco José Viegas adiantou, mas que se procura saber mais profundamente se a escola, a televisão, os jornais e a vida política não desvalorizarem quem tiver interesse em saber isso (...).
Para que se perdeu tanto tempo a discutir o que seria Serviço Público no audiovisual? Também não sei! Sei é que se os audiovisuais não produzirem programas que veiculem os valores socialmente integradores que os pais e os professoras implementem, tudo ruirá. O Serviço público mínimo começa na vontade dos nossos políticos em levar por diante uma proactividade entre os meios audiovisuais do Estado, as Escolas e os Pais. Serviço Público produzir programas, documentários, jogos, música, teatro, poesia, exposições, etc. para as Escolas, e deslocarem-se lá para que os próprios alunos possam fazer parte activa do projecto.
É preciso muito dinheiro para isto, é utópico! Queiram fazer, ousem fazer, atrevam-se os nossos políticos a meter na cabeça que os nossos jovens se estão cagando para o défice, para o orçamento, para a retoma, para os submarinos, para os estádios, para a Casa Pia, para a Justiça se não lhes fizermos a justiça de que o momento deles é agora, já, não para o ano, não para 2006.
Eu sei, sou doido, não é novidade! Novidade foi-o em 1964 quando uma única pessoa, sòzinha, de Ministério em Ministério, conseguiu a pulso levar a cabo um sonho, o do Ensino Integrado, cujo nome não consta como fundadora, mas que de sua cabeça brotou. Falo da Sra. D. Gilberta Paiva, ainda viva, ainda esquecida pelo seu país, que ergueu um projecto que hoje se chama Academia de Música de Santa Cecília e que, por acaso, nestes putativos “rankings” de escolas levados a cabo pelo Ministério da Educação teima em estar em 2 lugar.
Que desabafo, desculpem o lençol, mas há coisas que valapena!