4 de Novembro – “The Day After” da AMEC
Parece, finalmente, tudo se conjugar para que o folhetim Amec conheça o seu epílogo na próxima 3ª feira. Por um lado, as Câmaras associadas não quebraram o acordo de considerar que Miguel Graça Moura não tem condições para prosseguir e, por outro, a posição publicada pelo maestro, através de carta aberta, neste Expresso último.
Por lapso nunca anteriormente aqui “linkei” AMEC, “Associação Música – Educação e Cultura” (corrigindo agora o erro cometido), conhecida pela marca Metropolitana. Como poderão constatar e como muito bem elucidou Adufe, esta associação sem fins lucrativos é composta por 4 escolas e 2 orquestras – “Academia Metropolitana de Amadores”, Escola Metropolitana” (infantil e juvenil), “Conservatório Metropolitano” e “Academia Nacional Superior de Música”, a “Orquestra Académica” e a “Orquestra Metropolitana”
Os contornos rocambolescos de que este processo se revestiu já eu aqui transmiti, sendo com especial apreço que ouvi ontem, na Antena 2, João Maria de Freitas Branco dizendo, com muito ponderação e assertividade, que o projecto AMEC é uma obra ímpar no que ao ensino da música em Portugal diz respeito, pedindo que a saída inevitável do maestro não se traduza numa alteração ou desvirtuação dos fundamentos da obra.
É certo que não é o momento adequado para se prestar uma homenagem a Miguel Graça Moura, mas não se duvide que foi graças à sua tenacidade que a AMEC nasceu e à sombra da sua gestão se ergueu, ficando para a história o seu nome inscrito de forma indelével.
Salientava, ainda e bem, João Maria de Freitas Branco, ser a AMEC pioneira nos estudos superiores de Direcção de Orquestra e a forma inteligente como as escolas se encontram inter-relacionadas com o objectivo de captar e formar jovens músicos para as nossas orquestras, em especial, nas cordas, sector deficitário, desde sempre entre nós.
Para se ter uma ideia, desde 1995, ano em que saíram os seus primeiros formandos, bacharéis e, mais tarde, licenciados, da Academia Nacional Superior de Orquestra saíram 80 profissionais, 17 violinistas, 7 violetistas, 13 violoncelistas, 4 contrabaixistas, 6 maestros, 3 flautistas, 8 clarinetistas, 5 trompetistas, 3 percussionistas, 5 tubistas, 4 trombonistas, 2 fagotistas, 2 oboeístas e um trompista, sendo que destes 80, 40 são profissionais de música em Portugal e 11 conseguiram entrar em várias instituições estrangeiras de prestígio onde prosseguem o seu aperfeiçoamento artístico. Ímpar, como venho repetindo, é pouco para o conseguido em apenas 11 anos, diria atípico, pela positiva, dentro do panorama do ensino da música em Portugal, seja público, privado ou cooperativo. Notável, sem adjectivação quando comparado com outras escolas superiores se retirarmos os pianistas, sempre em excesso e de pouca utilidade no universo das orquestras!
Ora, esta é a herança a preservar, a impedir que seja deturpada, antes incentivada e acarinhada pelos poderes públicos. Para a maioria do público, Metropolitana é apenas uma orquestra, mas a verdade diz-nos que a realidade vai muito para além da Orquestra Metropolitana, aliás, esta nem teria, a meu ver, fundamento, sem ser integrada neste projecto já que seria uma 3ª orquestra residente em Lisboa, a par da da Gulbenkian e da Orquestra Nacional do S. Carlos.
É, sumariamente, este o desafio de quem vier a ter responsabilidades no futuro da AMEC! O momento é, felizmente, agora, de serenidade, de reflexão, sendo plausível que a Assembleia Geral consiga um compromisso unânime para o futuro. As inqualificáveis atitudes tomadas pela Câmara Municipal de Lisboa e pelo próprio maestro Miguel Graça Moura quase destruíram a realidade que descrevi e que, por si, orientou a minha conduta, pedindo o regresso do bom senso e da legalidade, tendo inclusivamente elogiado o trabalho calmo desenvolvido pelo Ministro da Cultura na busca do consenso mas, ou muito me engano, ou mais alguém, com grande sentido de responsabilidade e de Estado, sem procurar nenhuma espécie de protagonismo, encaminhou este rocambolesco folhetim para um mais que necessário epílogo, denunciado pelo espírito da carta aberta de Miguel Graça Moura, onde este parece recuperar o siso após longo período de notório desequilíbrio.
Ainda bem que Portugal ainda pode contar com pessoas desta estirpe, preocupadas em defender e promover o que de muito bem fazemos, impedindo que outros, cegos pela busca de interesses pessoais, não conhecendo limites para os seus intentos, arrastem para a lama pérolas como a AMEC.
Neste especial e ansioso momento, cumpre-me agradecer ao Rui Branco, à Catarina e ao Crítico a partilha desta preocupação e desejar as maiores felicidades aos vindouros, aqueles que receberão o privilégio de assumir os destinos da AMEC, tendo sobre eles o estigma da obra nada e criada por MGM. Exige-se, depois de todo este processo, que pior não façam e, ao assumirem este objectivo, tenham consciência que é extremamente ambicioso.