Está a perder-se o elo social tradicional, a credibilidade, como se houvesse de um lado aqueles que definem os factos e do outro os que definem os valores. A invocação do valor parece depender das oportunidades políticas.
Estamos a assistir ao colapso da dicotomia facto/valor. Não há duvida que "Precisamos de pensar sem demora um mundo que sai, de maneira lenta e brutal ao mesmo tempo, de todas as suas condições adquiridas de verdade, de sentido e de valor". O pensamento ocidental nunca suportou o vazio da significação, o não-lugar e o não-valor: sempre recorreu a um lugar, a uma economia, a uma transcendência. Afinal, todos os sistemas assentam na noção de fiabilidade, componente essencial das instituições da modernidade.
A dificuldade para a ética radica no predomínio da distância nas formas de relação pessoal. À relação face a face impõe-se hoje uma relação predominantemente centrada no cognitivo e no virtual. A sociedade digital afecta substancialmente as formas de vida em sociedade, mudando o âmbito das crenças em torno do conhecimento e dos valores.
Se a modernidade é dominada pelo epistémico e pela crítica, a pós-modernidade é-o pela comunicação e pela oscilação do "princípio de realidade". A crise da consciência passa, obviamente, pelo apagamento humanista da determinação, do juízo de valor e da procura da verdade. É interessante saber que no domínio da literatura, quando se pretende determinar o específico do pós-modernismo, se fala igualmente de "transgressão dos níveis ontológicos e de vacilação entre diversos graus de realidade" (McHale 1987: 228). O "efeito global de desenraizamento" que as novas tecnologias dos "media" impuseram denuncia em que mundo de "fabula" vivemos em que tudo vale tudo.
Se vos picaram podem ler o ensaio, na íntegra, na única revista on-line de arte e cultura que conheço em Portugal, a Interact, mais concretamente aqui, da autoria de José Augusto Mourão e de José Casquilho, sob o título “A Fidúcia em Crise”.