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08 dezembro 2003

Ainda do Anti-Semitismo

Aviz responde a Terras do Nunca sobre o "anti-semitismo" sem retirar nada do que disse, antes acrescentando de forma a tornar mais perceptível o seu sentir, nesta questão.
E diz, que (...) não é só a questão palestiniana que está em causa (sobre isso já disse o suficiente e não preciso de reafirmar o mesmo de todas as vezes que falo do assunto: estado palestiniano, já; apoio — expectante — em relação ao documento de Genebra). É o anti-semitismo claro e histórico, tornando as suas apreensões muito mais claras. Francisco José Viegas retira deste anti-semitismo a carga da política mediática do dia-a-dia, transportando-a para uma outra dimensão temporal, a da longa duração, a da permanência de uma realidade instalada após o surto "civizacional" dos anos 30. Tudo fica mais claro!

Veja-se, citando Steiner, «ao contrário do que acontecia nas fantasias das fábulas apocalípticas do século XIX, a barbárie irrompeu do coração da Europa». E mais: «Minada pelo tédio e pela estética da violência, uma considerável fracção da intelligentsia e das instituições da civilização europeia — as letras, as universidades, o mundo das artes — deram mais ou menos calorosamente as boas-vindas à instauração da inumanidade.» Essa inumanidade é a indiferença. (...) Os meus receios sobre o anti-semitismo não têm a ver, unicamente, com as manifestações anti-judaicas, mas com a marca essencial da política comum europeia: a indiferença (a «terrível incapacidade de estupefacção»(...).

Desta forma o seu discurso torna-se perceptível, enquadrável e pleno de sentido, isto é, o do verdade histórica, que me coloca em total acordo, sem a mínima margem para dúvida.

Desta indiferença, desta inumanidade, que emanam do culto de um individualismo como receita para a saída da "Grande Depressão", conduziu-nos a um estado indiferença, nas palavras de FJV, perante os horrores que vamos assistindo sem estremecer, sem sequer nos inquietarmos. Tudo parece longe, afastado de nós, como se não fizéssemos parte, como se não fosse de nós!
Cansamo-nos com as notícias do sofrimento, enfadamo-nos com o que não nos dá lucro, lixo, puro lixo para o padrão mental que nos regemos.
Neste sentido, FJV, assenta a sua análise numa lógica irrefutável. Só que é esta mesma atitude, a de inumana indiferença, que também compreendemos a indiferença perante o sofrimento palestiniano, o sofrimento afegão e iraquiano e perante o mais grave, os milhões que em nosso redor de fome morrem, como uma banalidade, trivial ou, com um inumano conformismo, ou não será?
A denúncia de Aviz é pertinente mesmo que possa parecer desinserida de uma valoração de prioridades. Arma-se para combater essa cobarde indiferença e, como todos nós deveríamos ousar, defende uma causa, para ele a que mais o magoa, e isto torna-o humano, justo, coerente e lúcido. É que a valoração não tem de ser compatível com a propriedade que advém do politicamente mais correcto, antes deverá ser intrínseca ao nosso sentir.
Assim todos nós defendêssemos as causas que merecem ser denunciads e defendidas. FJV fá-lo.