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05 dezembro 2003

Estimado Francisco José Viegas

Este seu post sobre o anti-semitismo revela muitas verdades (o crescente anti-semitismo entre os europeus), mas também alguma ligeireza na análise do porquê.

Bem veja, não posso senão consigo repudiar a não publicação do relatório Manifestations of Anti-Semitism in the European Union. É por demais evidente e preocupante o despudor com que a UE e os orgãos de comunicação social, em geral, passam por cima, ou ao lado (ainda não percebi) sobre a agudização deste tipo de problemas. No entanto, a confusão que muito bem denuncia entre judeus e israelitas, tem por base o próprio discurso dos israelitas que estão no poder, coadjuvado pelos judeus estadunidenses. O que começa a ser insustentável para a sustentação de Israel é precisamente o apoio incondicional dos Estados Unidos e do que eles representam a este governo israelita!
Ora, para a opinião pública, quer queiramos ou não, existe uma identificação entre judeus e israelitas. Por deficiente informação, sim, eu sei, por falta de substracto cultural, pois também, mas não deixa de ser condenável, concomitantemente, o silêncio que os mesmos orgãos de comunicação social votam aos movimentos de oposição a este governo israelita. Já reparou?

Com efeito, na minha modesta opinião, Israel (entenda-se o país e não os seus cidadãos e muito menos os judeus) é o principal responsável pela imagem que de si deu após rasgar os acordos conseguidos em Oslo. Esta marcha atrás e o retorno da ideia de "Grande Israel" de Ariel Sharon, conseguiu em pouco mais de um ano inverter a plácida simpatia dos europeus por aquele país.
De um Portugal pró-israelita nos anos 70, voltamo-nos para um Portugal, da direita à esquerda (usando dicotomia tradicional), pró-Resolução das Nações Unidas que Israel volta a não querer sequer equacionar. E vai continuando a construir o muro...

É evidente que desta política fundamentalista e isolacionista só Israel é responsável, não os judeus, mas dificilmente nos esquivaremos a não compreender os que a apoiam.

Já quanto ao Frei Bento e ao "exército judeu", se bem que seja de uma generalização infeliz, o Francisco José Viegas conhece bem melhor do que eu a razão de Israel acolher tantos judeus da diáspora, instalando-os em novos colonatos, mormente os dos países de Leste. Foi para alimentar o seu exército. Para todos os efeitos, apesar de ter afirmado que Israel é um país democrático, porque vai a votos regularmente e respeita os seus resultados, eu tenho dificuldade em considerar como democrático um Estado-Guerreiro qual Esparta! Todos os israelias são membros forçados das forças armadas do seu país, recebem treino periódico para o efeito e poderão ser chamados ao activo a qualquer momento. Isto não é novidade para si e, há cerca de um mês, quando defendeu um corrrespondente israelita de uma das nossas televisões, é bom que saiba que estava a defender a isenção de um jornalista que é simulâneamente coronel na reserva das forças armadas daquele país, posição que alcançou 2 anos após ter chegado a Israel, proveniente de Portugal, mais concretamente do Porto!

Diz o Francisco José Viegas que Outro ponto que me parece importante, deste relatório, é o facto de assumir que nos países da UE houve o cuidado de criar uma política de prevenção contra o anti-islamismo na sequência do 11 de Setembro, o que é verdade, mas mais verdade ainda é que a identificação entre terrorismo e islamismo é hoje muito mais vincada e divulgada "ad nauseum" por todo o mundo ocidental.

Com ou sem mandato das Nações Unidas nós, os Ocidentais, os "donos da verdade democrática", já proclamámos guerra, invadimos países, vilipendiámos povos em nome de uma guerra contra o terrorismo. Esses povos estão na miséria e os terroristas mais activos que nunca, enquanto Israel tem quase um protectorado dos Estados Unidos, o estandarte da nossa civilização.

Espero que aceite que, tal como o Francisco José Viegas, estou absolutamente contra qualquer acto ou tão-só indício xenófabo, mas seja em que em que caso ou particular situação fôr. Aliás, o regresso desta xenofobia ocidental e a facilidade com que se manifesta, no seu todo, é que me vai preocupando e, por mais voltas que dê, entronco sempre numa única explicação - a prepotência com que nos colocamos perante o mundo, julgando-nos superiores, seja a nível militar, ciêntífico, político, religioso e até cultural. Daqui advém a nossa cegueira...