Ontem, no "Jardim da Música" na Antena 2, Judite Lima arriscou convidando Miguel Graça Moura para uma entrevista sobre o caos que reina para os lados da AMEC, havendo já comentários no seu forum. Tal foi o dequilíbrio emocional do convidado que Judite Lima não conseguiu conduzir a entrevista como desejaria, deixando MGM libertar a pressão emocional que atravessa. De qualquer forma, ficou um bom registo do que pensa o promitente demissionário maestro sendo de salutar ouvir as opiniões dos fundadores desavindos, em especial a Câmara de Lisboa e os Ministérios de Cultura e Educação.
A verdade é que a AMEC tem hoje 4 escolas de música de reconhecido mérito, duas excelentes orquestras e um assinalável palmarés de concertos realizados. Para todos os efeitos, a MGM se deve a constituição desta ímpar obra no panorama cultural português não podendo ser sonegado ao maestro os bons e competentes serviços prestados a Lisboa e à sua área metropolitana.
Mas o que correu mal, afinal? O que deitou tudo a perder, a crer numa primeira auditoria às contas pedida pela Câmara de Lisboa, foi o facto desta ter revelado que MGM auferiria vários vencimentos e honorários e poderá ter abusado em sumptuosas despesas alheias ao exercício das suas funções. Quem teve acesso à auditoria sabe que será muito difícil a MGM justificar algumas dessas despesas bem como aquisições de bens que não se encontravam nas instalações da associação. No entanto, até ao momento, MGM não foi indiciado por qualquer crime, muito menos condenado.
Mas terá sido este o verdadeiro motivo da queda em desgraça do maestro? Não o foi para Maria Elisa porque seria para MGM?
A questão é pessoal, vem muito detrás. Pedro Santana Lopes nunca perdoou ao seu amigo de partido o enxovalho público a que este o votou aquando dos célebres concertos para violino de Chopin! Não fora esta necessidade de vendeta pessoal e julgo que a Câmara de Lisboa nunca teria pedido uma auditoria e, mesmo que tal ocorresse, as anomalias encontradas poderiam ter sido corrigidas em local próprio e não na praça pública. Só que o ódio pessoal foi mais forte...
A reboque de Pedro Santana Lopes o s Ministérios da Cultura e da Educação anunciam a sua pretensão de afastar o maestro das suas funções de gestão, confinando-o à estante o que este não aceitou, reclamando um contrato de fundadores válido até Dezembro de 2004. As entidades atrás referidas, saliente-se, responsáveis por mais de 80% do financiamento da AMEC, convocam uma reunião entre si para revogar os estatutos, tendo sido anulada por manifesta ilegalidade ao negar a presença da totalidade dos associados.
O paasso seguinte foi anunciar a falta de confiança pessoal em MGM e a pretensão de constituir uma nova direcção afastando liminarmente MGM de todo e qualquer função na associação.
O braço de ferro entre os meninos desavindos arrastam para a lama da fácil mediatização , todos os bons serviçoos prestados, os músicos e professores, toda a instituição. De facto a comunicação entre os associados passa a ser feita através dos orgãos sociais.
MGM não soube (não é de agora, infelizmente) sair quando sentiu que os principais financiadores lhe retiraram a confiança pessoal e tenta passar para dentro da instituição o mal estar que ele próprio ajudou a erguer.
Mas, pergunta-se, se é pública a desavença entre os meninos que fizeram os Ministérios da Cultura e da Educação para combater esta luta de garnizés sem esboçar uma tentativa que fosse para ultrapassar a questão e salvar o essencial, a AMEC? Nada, rigorosamente nada. A tudo assistiram, em tudo colaboraram, sempre seguindo o actual Presidente da Câmara de Lisboa. Desde Agosto que aderiram à posição da Câmara em não entregar o subsídio a que estatutariamente estão obrigados, deixando músicos, professores e funcionários sem vencimento desde então. Pura chantagem, ilegalidade lactente, levadas a cabo por deveria pautar o seu comportamento pelos mais exigentes padrões éticos, o Ministário da Cultura e da Educação.
Que dizer dos principais partidos portugueses, o PD e o PS? O silêncio, total alheamento, (desinteresse, medo?), nem uma palavra sobre o folhetim Santana / Graça. Uma irresponsabilidade total do governo e da oposição.
Chegam ao ponto de, através da comunicação social anunciarem a constituição de uma nova orquestra, deixando morrer todo o trabalho realizado e bem!
A situação agravou-se de tal forma nesta última semana que a chantagem acabou por surtir efeito junto das famílias que dependiam financeiramente da AMEC - os directores mais chegados apresentam pessoalmente a sua demissão a MGM na passada 6ª feira e os músicos, em conjunto, apelam ao maestro para este sair.
Todo este folhetim tinha um final anunciado, ficando para nossa vergonha o comportamento do Estado e da Câmara Municipal de Lisboa bem como do próprio auto-imposto maestro!
E, agora, que futuro para a AMEC? Dos nomes apresentados para a direcção que pretendem ver eleita nenhum dá garantias de competência à associação. Será que pretenderão contratar um maestro, um gestor com créditos firmados na coisa da cultura e um director pedagógico a preços principescos? Não sairá esta solução mais onerosa que a anterior, mesmo que comprovados os desvios detectados nas auditorias?
Convenhanos que este género de comportamentos não abonam a dignificação dos políticos nem dos agentes culturais, não são nada promissores para a preservação e aperfeiçoamento da AMEC, não adiantando para nada o Presidente da República pugnar pelo bom nome dos políticos quando eles próprios se alheiam do seu próprio bom nome a troco de vendetas pessoais.
Muito gostaria que a coisa cultural fosse mais tratada na globosfera, como o fazem o Crítico Musical, Textos de Contracapa ou Aviz. É que este meio é promissor quando queremos ver tratados assuntos que a comunicação social institucionalizada se esquiva.