A importância que os irlandeses, escoceses e galegos dão ao culto da sua gaita deverá ser um exemplo a seguir por nós.
Poderá parecer estranho, até demasiadamente íntimo para aqui abordarmos o assunto, mas a verdade é que desde o sec. XVII que nos vimos a descuidar com a manutenção deste objecto lúdico que esteve presente no nosso imaginário durante mais de 15 séculos.
Não sabemos o que nos terá levado a abdicar deste culto, da sua utilização e demonstração, que se manteve no primeiro plano de todas as manifestações públicas, sagradas e profanas, de cariz festivo.
De há uns anos a esta parte, mais concretamente de há uns 5 anos, alguns, poucos, tentaram retomar o uso da nossa gaita, reaprendendo o seu manuseamento, a posição das mãos e seus movimentos, o cuidado posto na sua embocadura, enfim, tentando recuperar o perdido na nossa cultura, na nossa identidade.
Utilizaram a nomenclatura antiga para a descrever e erguer, com um odre de pele de chibo, que tem por função ser um depósito, o bocal, o ponteiro que se liga ao odre, o roncão, comprido tubo de vários segmentos, como poderão aqui constatar.
A reconquista deste laborioso, mas aprazível culto conduz-nos a Sendim. De Trás-os-Montes. Como se não bastasse o famoso culto da “Posta à Mirandesa”, Sendim tem sido palco do mais interessante Festival de Música Étnica do nosso país (arredado das “Agendas” mediáticas), reunindo todos os tocadores de gaita do mundo. Aí se retomou o gosto e se iniciou a sua divulgação pelo nosso país. Hoje temos já escolas de Tocador de Gaita, veja-se, e o número de praticantes não cessa de aumentar.
O Toni das Gaitas, José Maria Fernandes, e Ti Roque já gravaram algumas modas tradicionais em CD, conforme podem verificar e “O Porto Céltico” é um dos principais divulgadores.
Sendim promoveu o “Arribas Folk” e será já a 20 de Dezembro que se conhecerá o vencedor deste concurso, entre os 5 finalistas.
Que viva a gaita, a nossa, a de foles, e veja-se o que o Attambur faz pela música tradicional portuguesa que é um notável exemplo do que se deveria fazer na recuperação e divulgação de nós. Alguém conhece um site de qualidade similar para a música clássica portuguesa? Ponha-se aqui os olhos!
Então quando me lembro o enquistado acervo fonográfico da Antena 2 e da RTP, perco a piada e esmoreço-me.
Bem hajam os que por bem agem e cujo retorno que buscam é o de bem agir, mesmo sem voz nas televisões, rádios ou jornais.
Vivam os novos Tocadores de Gaita, porra!