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22 março 2004

Belgais na encruzilhada esquerda/direita

Como parece ser já institucional «os alinhados» por uma esquerda ou direira auto-purgam-se do mínimo pensamento ou ideia que não seja enquadrável dessa redutora dicotomia. O que lá não encaixa é marginal, não passível equacionar ou sequer de ser!

Maria João Pires, em entrevista oa «El Pais» queixa-se do incumprimento por parte do Ministério da Educação do contrato celebrado com Belgais e o facto do próprio Ministério repetidamente publicitar ter já entregue muitos euros a Belgais. Após Maria João Pires ter marcado presença na manifestção de 22 de Março esquerda e direita começaram a defender e a atacar o projecto Belgais através de posições sobre a propriedade ou não de subsídios estatais. É pena, dos que li, que não façam a mínima ideia do que estão a falar e insistam do cimo do seu arrogante desconhecimento a debitar disparates!

Ilustremos:

1 - Maria João Pires deu uma entrevista a um periódico espanhol e não a um português. É verdade! O que não é verdade é que Maria João Pires tenha recusado qualquer entrevista aos periódicos nacionais ou às televisões e rádios públicas e privadas.

2 - Maria João Pires não pede subsídios para a sua actividade como concertista nem para gravações, bem pelo contrário, todo o dinheiro que consegue com essa sua actividade coloca-o ao serviço do projecto Belgais. Este projecto de instrução/formação e divulgação ímpar é subsidiado a vários títulos, a saber:
2.1 - Produção de espectáculos e captação de novos públicos consubstanciados em concertos para as escolas na região de Castelo Branco, pelo Ministério da Cultura através do extinto IPAE e actual IPA (donde me parece provir estas notícias de sobre-financiamento) e passo a transcrever a missão definida para este contexto:

Concertos para as Escolas
Além da temporada regular de concertos de Belgais, que este ano inclui concertos mensais dedicados a vários países ou regiões, o Centro para o Estudo das Artes de Belgais criou recentemente uma nova modalidade de concertos, especialmente dedicados a escolas que queiram visitar o centro.
Nestes concertos serão apresentadas diversas obras do repertório clássico que, pelas suas características, são de uma mais directa e evidente assimilação por parte de um público jovem, e por outro lado trata-se de repertório que suscita estimulantes referências a universos extra-musicais como a literatura, as artes plásticas, etc.

Estes concertos serão comentados e haverá sempre espaço para um diálogo aprofundado entre o público e os músicos intervenientes sobre todos os aspectos relacionados com o fenómeno musical, desde os instrumentos, até à rotina de estudo ou ao nervoso de estar num palco.
Trata-se de uma forma estimulante de fazer chegar a jovens estudantes o mundo dos grandes mestres da música, criando pontes e relações com universos culturais que lhes são familiares, evitando assim algum tédio que, por vezes, formas de apresentação pouco imaginativas, ou escolhas de repertório pouco adequadas, podem provocar.


2.2 - Depois do Ministério da Educação determinar o encerramento de várias escolas do ensino básico dos arredores rurais de castelo Branco, Belgais propos-se acolher os alunos dessas escolas que seriam deslocados, apresentando um projecto educativo para o efeito, onde a formação e sensibilização para a arte teria uma presença idêntica às restantes áreas do saber e sentir, tendo o Ministério da Educação celebrado o primeiro Contrato-Programa com uma entidade privada para assegurar o ensino básico do qual se tinha demitido, com o prazo de 50 anos. Chama-se a este projecto "A Escola da Mata" sendo o atraso do cumprimento do financiamento deste projecto ímpar a que Maria João Pires se referiu. Passo a transcrever a missão que Belgais assumiu para si própria neste projecto:

Escola da Mata
Os projectos com crianças assumem-se como prioritários nos temas e objectivos do Centro para o Estudo das Artes de Belgais. Neste contexto, nasceu o projecto de uma Escola Primária Bilingue, baseada no estudo das Artes. Uma escola que pretende, ao longo dos anos, edificar um projecto global de intervenção cultural e social dedicado não só à população da Beira Baixa, mas a todos os que desejem fazer parte deste projecto inovador, que desincentiva a desertificação e que repõe a confiança das populações na sua região através das artes eruditas e tradicionais.

O projecto educativo da Escola da Mata apoia-se em três pilares fundamentais: a presença das artes na educação básica, o bilinguismo e uma consciência activa dos valores da comunidade em que a escola se insere. Pretende-se, desta forma, acrescentar a uma abordagem séria e criativa dos programas urriculares, um ensino que possa desenvolver nas crianças valores consolidados de integridade e auto-estima.
Assim, todas as áreas curriculares da escola devem, de algum modo, reflector os três pilares anteriormente referidos nos seus conteúdos programáticos


Há quem diga que estas crianças são beneficiadas em relação às restantes. Têm toda a razão. Belgais providencia a suas expensas, o transporte, a alimentação e dormida se necessário for aos seus alunos. Nisso têm toda a razão!

Estes são os subsídios do Estado que Belgais aufere perfeitamente enquadrados em princípios que deveriam orientar a atribuição de subsídios dos Ministérios da Cultura e da Educação já que é evidentemente o seu carácter pedagágico na formação de jovens a que o Estado se demitiu e não à prossecução de concertos itinerantes ou dúbias produções teatrais!

Quanto aos restantes doações, patrocínios e apoios recebidos por Belgais deixo aqui o rol para que possam constatar que mesmo apesar dos que abordei, os do Estado, os restantes são bem mais representativos:

Doações

Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales
Hattori Foundation
Carlson Family Foundation
Jacob Foundation

Patrocínios actuais

Electricidade de Portugal
Portugal Telecom
Instituto Português das Artes do Espectáculo
Banco Português de Negócios
Yamaha Pianos
Deutsche Grammophon Gesellschaft
Grupo Lusomundo

Apoios

Ministério da Educação
Câmara Municipal de Castelo Branco
Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
Jornal do Fundão
Revista Raia


É por isto que talvez me exceda quando vejo, em nome de esquerda ou direita que ainda não sei o que é senão o tratamento evidente de clientelas, dizerem e escreverem coisas só porque gostam de o fazer pois demonstram um cabal desconhecimento do assunto de que se reservam no direito de abordar.

Sobre este assunto ver o que escreveu Aviz, Bloguítica e outros que, eventualmente, não tenha detectado.