"A teologia faz-nos esquecer que a Igreja é uma religião de amor. Se tem que travar um combate, não é com a fraseologia de artigos de guerra, mas com o do triunfo do “princípio do amor”. Será realista fiar-se numa criança que nasce pobre? Não será melhor invocar o Deus omnisciente e omnipotente da metafísica? Ou terá a ciência moderna, omnipotente e omnisciente, substituído o Deus da metafísica?"
Mais uma prenda que José Augusto Mourão me enviou e que vos convido a ler. Fala-nos de Deus, de Cristo, do Natal, do Amor que já falei, o de fazermos e vivermos neste Amor que nos congrega, a mensagem que Jesus nos deixou.
Deixo o texto da íntegra. A melhor forma de sermos vivos, já apartir de 2004, é a conversão a tudo pensarmos e fazermos tendo este Amor por norte. Uma viagem interior difícil de iniciar, de prosseguir e de alcançar, neste mundo que em que tudo nos parece querer afastar deste caminho.
A montanha e o viandante
1. Num dos seus últimos escritos, A imutabilidade de Deus (1851), Kierkegaard fala de um “viandante que se queda ao pé de uma montanha enorme, impossível de escalar”. Os seus desejos e aspirações, a sua alma, visam as alturas, mas a montanha continua diante dele, imóvel, impossível de escalar. Pode o viandante chegar aos setenta anos: a montanha erguer-se-á ainda diante dele imutável, inacessível. Mil anos pasassem e a montanha continuaria imóvel e já mortos quantos tentaram escalá-la. A montanha inacessível e imutável é de facto, Deus. Esta será uma das últimas vezes em que um grande pensador vê Deus como o imutável e o eterno, em contraposição com a mutabilidade e a volubilidade do mundo.
2. Os teólogos dizem-nos que Deus é um ser atemporal que é infinito, omnisciente e omnipotente porque Ele é todo o ser,e toda a existência está contida nele. Não sabemos o que dizemos. Não sabemos o que significa existir fora do tempo, conter todo o passado e todo o futuro na existência presente. Não sabemos o que significa ser omnipotente, senão metaforicamente – o pantocrator grego que alude ao governante ou senhor de todas as coisas é mais fácil de conceber do que o seu equivalente latino omnipotens. Não sabemos o que é criar o mundo de nada. Tão pouco o que é ser omnisciente, nem o que é a Santíssima Trindade ou que coisa possa ser identificada de essência e existência.
3. Como pode o Absoluto ser uma pessoa como cada um de nós? Podemos imaginar o Ser de Parménides, imóvel na sua identidade, dando ordens a Noé para construir a Arca? Ou o Uno intemporal de Plotino a explicar o sofrimento a Job? Teremos de separar o Deus personificado das inumeráveis e insondáveis profundidades da Divindade?
4. O cristianismo não é apenas uma religião entre outras: pretende ser a revelação da verdade. E em sentido bíblico, “verdadeiro” não é um facto, mas aquele em quem nos podemos fiar de forma incondicional. É o próprio Deus é a verdade. Como o Deus da fé cristã se revelou numa pessoa concreta, podemos qualificar o cristianismo de revelação eminentemente “histórica”, diferentemente de outras religiões não menos históricas. A revelação de Deus em Jesus é a sua autorevelação única no Filho de Deus; e a melhor prova de que Jesus é, enquanto Cristo, o deus-homem, proporciona-a a ressureição. O cristianismo aplana o caminho através da dupla natureza de Jesus Cristo, o mediador. Conhecemos o seu nome, como a sua vida; sabemos que rezava ao Pai, que pregou a Boa Nova e morreu na cruz.
5. Na nossa civilização tudo se tornou uma questão de fé. Vivemos na fé enquanto estamos na terra. “Fé” significa “fidúcia”. Fiamo-nos no guia quando não sabemos os caminhos; ter fé é um não ver e um não saber. Paulo di-lo: fiamo-nos nas coisas que não aparecem (non apparentium). Onde aparece a salvação é que está o perigo. Até a missão do Tirano que o homem democrático acalenta é “espiritual”: fazer do cosmo uma cidade, de todos os lugares um espaço, de todas as convicções a convicção sobre a eficácia da Técnica e de toda a fé uma só ética. O Anticristo “erit in omnibus subdole placidus” não é o oposto de Cristo, mas o seu símil. Quer trazer ao homem a sua paz, convencê-lo disso e encadeá-lo. É o ídolo da providência que o homem democrático adora: adorará aqueles que dispõem da força desta fé. Servirão aqueles que afirmam poder produzi-la, que saberão magicamente mostrar-lhes que a paz (segurança. Protecção, tutela) está em seu poder. O seu rosto será placidus, a sua violência não se exprimirá com guerra, mesmo “justa”, mas com a divinização das obras. E as obras parecem divinas quando possam produzir o Último (Cacciari, 1997: 128).
6. O problema do Deus Criador continua de pé. A ordem e o sentido do mundo procedem de Deus; se Deus morreu, fica-nos apenas o vazio em que nos perdemos. A nossa experiência diz-nos que Deus confina por vezes com o Absolutamente Outro, o impessoal princípio metafísico, o “Deus absconditus”. Por vezes, objectiva-se na teatralidade e no estetismo dos espectáculos do mundo (Cosmo, Natureza, Mistérios...) que geram uma emoção arrebatadora. Por vezes confina com o excepcional, o inesperado, a estética do maravilhamento e do êxtase. Devemos procurá-lo no interior dos corpos que somos ou pelo contrário no interior dos corpos extraordinários, os do estigma, da dor ou do prazer, da cura inesperada ou da doença? E se Deus fosse a figura da desnudação, do encontro com o Pobre? E se Deus estivesse no esquecimento de si, no martírio, no vazio, no silêncio?
7. A teologia faz-nos esquecer que a Igreja é uma religião de amor. Se tem que travar um combate, não é com a fraseologia de artigos de guerra, mas com o do triunfo do “princípio do amor”. Será realista fiar-se numa criança que nasce pobre? Não será melhor invocar o Deus omnisciente e omnipotente da metafísica? Ou terá a ciência moderna, omnipotente e omnisciente, substituído o Deus da metafísica?
8. O Natal é para nós todos a festa dos afectos. Da encarnação. No cristianismo a salvação é uma questão de fé. Os mais humildes e ignorantes dos homens podem superar os mais sapientes dos filósofos. Para entrar no Reino do Céu devemos tornar-nos crianças. Porque ninguém está mais perto da fidúcia que as crianças.
9. Este é o tempo da humanização de Deus. É essa alegria que os anjos anunciam e os pastores partilham. Aqueça-vos o Menino nesta hora. Aquecei os olhos com as luzes desta festa. Doze são as constelações que formam a coroa do Cristo Kosmocrator e Kronocrator, o Cristo-Sol. Nos sermões leoninos (440-461) a estrela representa o Sacramentum Gratiae, isto é o elemento material através do qual a Graça ilumina os sentidos e conduz a Cristo. Os magos são as primitiae gentium, prova da conversão de todos os povos que não pertencem ao tronco de Israel e as suas ofertas referem-se a Jesus enquanto Deus, Rei e Homem.
10. A mensagem de Isaías deixa transparecer como plantas à superfície da água, uma floração imensa de figuras arcaicas: a justiça, a salvação, a paz, a glória, o júbilo. “Tornou-se realista não dar fé ao amor, tornou-se realista aceitar a crescente tristeza dos homens, tornou-se realista acolher a indispensabilidade da política, o domínio de uns pelo outros” (...) “Virá a hora em que ninguém querer nascer com o corpo de pobre, com um corpo de lixo doente, com o corpo triste do desamor” (MGL: 129).
11. Celebremos a infância, a esperança da vida. Substituamos o conhecimento pela esperança. Nós envelhecemos, mas a vida recomeça. Quem nos lembra isso já não a festa antiga do solstício, mas o Sol do alto que veio visitar-nos. O Natal diz-nos, na sua humanidade brutal, melhor que nenhuma outra sequência da história de Jesus, que é toda a humanidade que é contemplada nesta história. Não somos os pastores, essas figuras raras que vivem a experiência do maravilhamento. Já não ouvimos Anjos: ensurdeceu-nos o positivismo da voz que se tornou táctil, nula e funcional. Esqueçamos o pathos sobre a fraqueza de Deus, tão pueril como a exaltação da sua omnipotência. Que a divina surpresa dê corpo à esperança que nos mantém de pé. Esta nudez, esta vulnerabilidade no tempo é espantosa: haverá outro modo de dizer que Deus é humano?
31 dezembro 2003
26 dezembro 2003
Foram muitas
as mensagens via correio electrónico e telemóvel.
Tá bem, pois, estamos mais próximos, mais juntinhos, mas esta mania, especialmente entre os telemoveiros, de quererem ser originais para, em meia dúzia de linhas, o mesmo pretender dizer é que é caricato...!
"Fastástico" foi o adjectivo que mais li relativo ao Ano Novo, porra, porque não fantasmogórico, e quanto a desejos, aí foram quase unânimes, que eu consiga realizar todos os meus sonhos em 2004!
Será que esta gente não sabe ainda o Amor e apreço que dedico à minha família? É fantástico!
Tá bem, pois, estamos mais próximos, mais juntinhos, mas esta mania, especialmente entre os telemoveiros, de quererem ser originais para, em meia dúzia de linhas, o mesmo pretender dizer é que é caricato...!
"Fastástico" foi o adjectivo que mais li relativo ao Ano Novo, porra, porque não fantasmogórico, e quanto a desejos, aí foram quase unânimes, que eu consiga realizar todos os meus sonhos em 2004!
Será que esta gente não sabe ainda o Amor e apreço que dedico à minha família? É fantástico!
23 dezembro 2003
Endereço
o desejo de um Feliz Natal e faço votos para que o partilhem com a família, os que o puderem fazer, e com todos aqueles que amam.
22 dezembro 2003
«(...) como Eu vos amei»
E Deus, omnipotente e omnipresente, necessita de ser amado? Precisará do nosso Amor?
Deste Amor
«os homens amaram mais as trevas do que a luz» (João 3:19), lembra-nos muito justamente a Voz do Deserto, mas Cristo dá-nos a luz da verdade do Amor no seu último Mandamento,«(...) assim como Eu vos amei» (Jo 13, 34; 15, 12) e ilumina-o como o caminho, ««Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores»»; (Mt 5, 44-45).
21 dezembro 2003
Pois tenho,
andado ocupado em não me ocupar a aqui retransmitir o que por aí se vai fazendo e escrevendo!
É certo que não pude nem dar uma espreitadela na net durante os últimos dias, mas também é verdade que este tempo me serviu para ver que será demasiadamente presunçoso considerarmos que poderemos ter uma leitura diferente das merdas que parece que querem que todos falemos. Dei então comigo a dizer-me que não é de leituras nem brilhantes raciocínios que precisamos, antes aproveitarmos este "Advenro" para colocar as etiquetas no lugar que lhes é devido sem alargadas regurgitações!
Há o bem e o mal, em tudo, em nós, e um longo e mult-icolorido percurso entre eles, mas por bem sentimos sempre o que é bem e o que é mal. E Isso é que verdadeiramente importa.
Desinstalarmo-nos da comodidade e da mediocridade e pormo-nos à escuta da Palavra e das reais necessidades das pessoas. Reencontrarmo-nos a sério connosco mesmos e fazer verdade da nossa vida. Vencer o egoísmo partilhando sensata e generosamente o que temos e somos, desencadeando encontros e reencontros. Convidar e abrirmo-nos aos eventuais convites à efectiva solidariedade, respeitando as legítimas diferenças e promovendo as sintonias possíveis.
O Advento realiza-se em nós que vamos construíndo ou não o paraíso nos modos e processos de assumir e partilhar a qualidade da nossa vida, na base da verdade, da justiça, da lealdade, da solidariedade efectiva e tolerância activa. Entre o nascer e o morrer, inscreve-se a oportunidade de perder ou construir, de caminharmos mais pelo pelo bem que pelo mal, sendo o Amor por tudo o que vive e conosco nos faz viver o único trilho que devemos sentir para por ele seguir - a chave. A capacidade de amarmos e de nos deixarmos amar fará sempre a diferença.
A vocação de Amar é a de, em cada momento, construir uma história de comunicação e comunhão, fazendo desabrochar os dons da natureza e da graça, em serviços generosos, inteligentes e diligentes.
O resto, de resto, é ruído. Ensuedecedor, eu sei, mas mesmo por isso a desistência será uma prova da falta de Amor. Por Amor se constrói e com o Amor mostramos o caminho a quem dele possa ter bifurcado.
Por Amor, sempre, não enxergo outro trilho que seja tão seguro para o discernimento entre o bem que se quer e o mal que podemos fazer.
É certo que não pude nem dar uma espreitadela na net durante os últimos dias, mas também é verdade que este tempo me serviu para ver que será demasiadamente presunçoso considerarmos que poderemos ter uma leitura diferente das merdas que parece que querem que todos falemos. Dei então comigo a dizer-me que não é de leituras nem brilhantes raciocínios que precisamos, antes aproveitarmos este "Advenro" para colocar as etiquetas no lugar que lhes é devido sem alargadas regurgitações!
Há o bem e o mal, em tudo, em nós, e um longo e mult-icolorido percurso entre eles, mas por bem sentimos sempre o que é bem e o que é mal. E Isso é que verdadeiramente importa.
Desinstalarmo-nos da comodidade e da mediocridade e pormo-nos à escuta da Palavra e das reais necessidades das pessoas. Reencontrarmo-nos a sério connosco mesmos e fazer verdade da nossa vida. Vencer o egoísmo partilhando sensata e generosamente o que temos e somos, desencadeando encontros e reencontros. Convidar e abrirmo-nos aos eventuais convites à efectiva solidariedade, respeitando as legítimas diferenças e promovendo as sintonias possíveis.
O Advento realiza-se em nós que vamos construíndo ou não o paraíso nos modos e processos de assumir e partilhar a qualidade da nossa vida, na base da verdade, da justiça, da lealdade, da solidariedade efectiva e tolerância activa. Entre o nascer e o morrer, inscreve-se a oportunidade de perder ou construir, de caminharmos mais pelo pelo bem que pelo mal, sendo o Amor por tudo o que vive e conosco nos faz viver o único trilho que devemos sentir para por ele seguir - a chave. A capacidade de amarmos e de nos deixarmos amar fará sempre a diferença.
A vocação de Amar é a de, em cada momento, construir uma história de comunicação e comunhão, fazendo desabrochar os dons da natureza e da graça, em serviços generosos, inteligentes e diligentes.
O resto, de resto, é ruído. Ensuedecedor, eu sei, mas mesmo por isso a desistência será uma prova da falta de Amor. Por Amor se constrói e com o Amor mostramos o caminho a quem dele possa ter bifurcado.
Por Amor, sempre, não enxergo outro trilho que seja tão seguro para o discernimento entre o bem que se quer e o mal que podemos fazer.
17 dezembro 2003
Não vejo que se questione
mas, insisto, se os EEUU declararam há uns meses o fim da guerra, como poderão considerar Saddam um prisioneiro de guerra?
Ontem
no "Livro Aberto", programa de FJV na NTV, os convidados, Gen. Loureiro dos Santos e Prof. Paulo Rangel, deixaram duas ideias que registei:
1 - Paulo Rangel, um defensor da invasão do Iraque, questiona-se agora sobre essa sua posição pela evidente constatação da incompetência dos americanos em acções de policiamento e reposição da ordem;
2 - Os dois mostraram-se de acordo com a cautela que deveremos ter em não confundir "terrorismo" com "resistência".
Gostei da honestidade das suas interrogações, mas este último aspecto é similar ao que, no passado, se optava por apelidar de terroristas ou guerrilheiros conforme o mais conveniente...
É também por isto que é tempo de se ver quais as intenções da França, da Alemanha, da Rússia e da China no seio das NU. Perante esta evidente incompetência, estes países deveriam mostrar iniciativa de querem participar activamente, no seio das NU, num esforço de reposição da ordem e normalidade institucional violadas pela invasão.
1 - Paulo Rangel, um defensor da invasão do Iraque, questiona-se agora sobre essa sua posição pela evidente constatação da incompetência dos americanos em acções de policiamento e reposição da ordem;
2 - Os dois mostraram-se de acordo com a cautela que deveremos ter em não confundir "terrorismo" com "resistência".
Gostei da honestidade das suas interrogações, mas este último aspecto é similar ao que, no passado, se optava por apelidar de terroristas ou guerrilheiros conforme o mais conveniente...
É também por isto que é tempo de se ver quais as intenções da França, da Alemanha, da Rússia e da China no seio das NU. Perante esta evidente incompetência, estes países deveriam mostrar iniciativa de querem participar activamente, no seio das NU, num esforço de reposição da ordem e normalidade institucional violadas pela invasão.
Então não havia de saber...
menina, quem é o Robbie Williams. Mesmo que não quisesse seria impossível!
Mas, nem de propósito, no passado Domingo, com as minhas entendidas sobrinha,s falámos sobre isso. Uma gosta, outra não, ele sorri e a namorada diz que até tem boa voz!
Se não cantasse em inglês, se optasse pela nossa língua, seria justo dizermos tal mal do Tony Carreira? Não obtive resposta, mas é seguro que este também tem um belíssimo instrumento...! Mas este não é o problema, antes os fins que lhe damos. E, aí, não encontro mesmo grande diferença!
Mas, nem de propósito, no passado Domingo, com as minhas entendidas sobrinha,s falámos sobre isso. Uma gosta, outra não, ele sorri e a namorada diz que até tem boa voz!
Se não cantasse em inglês, se optasse pela nossa língua, seria justo dizermos tal mal do Tony Carreira? Não obtive resposta, mas é seguro que este também tem um belíssimo instrumento...! Mas este não é o problema, antes os fins que lhe damos. E, aí, não encontro mesmo grande diferença!
16 dezembro 2003
De tudo o que se disse de Saddam
curvo-me perante este texto:
Duas paredes
Concordo com o Vincent quando coloca as coisas nestes termos: qualquer pessoa com a temperatura inadequada se pode tornar num déspota. É isto que afirma o Evangelho. O mundo dos meninos bem-comportados é um suspiro masturbatório para ateus desengonçados.
A queda de Saddam tem para mim dois efeitos: contentamento e auto-exame. O primeiro porque quem infringe deve ser castigado. O segundo porque no seu lugar poderia estar eu.
Muito obrigado ao seu autor.
curvo-me perante este texto:
Duas paredes
Concordo com o Vincent quando coloca as coisas nestes termos: qualquer pessoa com a temperatura inadequada se pode tornar num déspota. É isto que afirma o Evangelho. O mundo dos meninos bem-comportados é um suspiro masturbatório para ateus desengonçados.
A queda de Saddam tem para mim dois efeitos: contentamento e auto-exame. O primeiro porque quem infringe deve ser castigado. O segundo porque no seu lugar poderia estar eu.
Muito obrigado ao seu autor.
Dificuldade em perceber o esmorecimento
dos que se pronunciarem contra a invasão unilateral do Iraque, em especial pelo Terras do Nunca e Avatares de um Desejo.
Fui e sou contra esta invasão, mas tendo ocorrido, ainda bem que capturaram Saddam Husseim e que bom seria se também pudessem deitar a mão a Bin Laden. Decerto que o mundo ficaria melhor com todos os ditadores em tribunal. Porquê esmorecer?
Só que com a captura do ditador e a inexistência de armas de destruição, cabe agora à ONU dizer que os fundamentos que os invasores invocaram estão cumpridos, devendo aprontar, sem demoras, a retirada e entregar à ONU a passagem do poder político para os iraquianos, para que eles, livremente, possam escolher se querem ou não um regime democrático do tipo ocidental e, em consequência, elegerem os seus legítimos representantes.
Certo é que não há mais uma única razão para a coligação invasora se manter no local, muito menos a espancar manifestantes em nome da superioridade das suas democracias, por um lado, e por outro, tendo declarado o fim da guerra há já uns meses, não poderão manter preso o ditador, muito menos na qualidade de prisioneiro de guerra.
A partir deste momento é que eu aguardo ansiosamente pela posição do Conselho de Segurança das NU, pois mesmo os países que não apoiaram esta invasão são, a meu ver, obrigados a comprometer-se, por isso mesmo, na devolução pacífica do Iraque aos iraquianos. É o momento de sabermos se a França, a Alemanha e a Rússia estão mesmo apostados na reposição da legalidade e das condições de vida daquele povo.
Será que o ditador vai a julgamento num país, que é o seu, que tem um governo fantoche, perfeitamente anti-democrático? Esta é uma questão muito importante. Se Saddam for a julgamento antes da retirada dos invasores e antes de os iraquianos se manifestarem livremente sobre os seus destinos, estaremos, nós ocidentais, a continuar a permitir que a legalidade democrática que dizemos exigir seja uma parangona para "inglês ver".
É por isto que a captura de Saddam Husseim foi importante, para devolver o Iraque aos iraquianos, por esvaziamento dos fundamentos que levaram à ocupação.
15 dezembro 2003
Desculpem a Ignorância
A propósito do que Nuno Peralta diz:
Finalmente uma boa notícia vinda do Iraque, com a captura de Saddam Hussein.
Pode ser que seja um primeiro passo para o estabelecimento de um verdadeiro regime democrático neste país(...)
Não percebo nada de política mas permita-se a pergunta: não seria mais "verdadeiramente democrático" permitir que livremente os iraquianos se pronunciassem se querem ou não essa coisa de "um verdadeiro regime democrático"?
Peço desculpa se estarei a dizer alguma barbaridade.
Finalmente uma boa notícia vinda do Iraque, com a captura de Saddam Hussein.
Pode ser que seja um primeiro passo para o estabelecimento de um verdadeiro regime democrático neste país(...)
Não percebo nada de política mas permita-se a pergunta: não seria mais "verdadeiramente democrático" permitir que livremente os iraquianos se pronunciassem se querem ou não essa coisa de "um verdadeiro regime democrático"?
Peço desculpa se estarei a dizer alguma barbaridade.
14 dezembro 2003
Repasto da Congregação
Por entre os tentáculos do bicho, por "Aleixo" arranjado e camuflado, conseguímos dar início à conspiração pela èticalização do saccro-coccígeo quisto que niilisticamente infesta a esfera blogueirística.
Não foi pacífica, nem quiçá definitiva, a plaraforma de actuação alcançada para o 1º trimenstre de 2004, mas como estaremos já em retoma (tratam-se afinal de 15 dias, com franqueza), retomaremos um outro repasto para definirmos se o definido poderá ser ainda passível de ser definível para podermos passar à definição do generalizado colapso.
Presenças ARPE: Alvino, Anarca Constipado, Filipa, Le Tasque, Zazie, João e Carlos a.a..
Esteve-se bem, claro, atendendo às condições exigidas.
Não foi pacífica, nem quiçá definitiva, a plaraforma de actuação alcançada para o 1º trimenstre de 2004, mas como estaremos já em retoma (tratam-se afinal de 15 dias, com franqueza), retomaremos um outro repasto para definirmos se o definido poderá ser ainda passível de ser definível para podermos passar à definição do generalizado colapso.
Presenças ARPE: Alvino, Anarca Constipado, Filipa, Le Tasque, Zazie, João e Carlos a.a..
Esteve-se bem, claro, atendendo às condições exigidas.
PRENDERAM O HUSSEIM!
Finalmente, rapidamente, descobrirão todo o arsenal químico e poderão deixar os iraquianos sozinhos, para democraticamente, decidirem como pretendem reerguer o seu país! Será assim?
10 dezembro 2003
A Ruben Gonzalez
Ruben González atravessou o período mais criativo da sua vida isolado do mundo, em Cuba.
Era o pianista mais famoso da Cuba de Batista e só voltou ao mundo em 1997, com 84 anos, através do seu primeiro CD, "Introducing...Ruben Gonzalez", depois de estar sem tocar piano mais de 20 anos - os pianos foram desaparecendo da ilha...
Continuo a considerar este trabalho em CD o melhor do autor, embora tenha sido pela mão de Ry Cooder, através de "Buena Vista Social Club" que este e outros músicos cubanos saltaram para a ribalta.
Ry Cooder foi multado por tribunal dos EEUU por violar o famoso embargo e absolutamente proibido de voltar a trabalhar com músicos daquelas paragens.
O CD, esse, foi censurado, proibida a distribuição naquele país, o "must" desta democrata...!
Boa viagem, Ruben.
Era o pianista mais famoso da Cuba de Batista e só voltou ao mundo em 1997, com 84 anos, através do seu primeiro CD, "Introducing...Ruben Gonzalez", depois de estar sem tocar piano mais de 20 anos - os pianos foram desaparecendo da ilha...
Continuo a considerar este trabalho em CD o melhor do autor, embora tenha sido pela mão de Ry Cooder, através de "Buena Vista Social Club" que este e outros músicos cubanos saltaram para a ribalta.
Ry Cooder foi multado por tribunal dos EEUU por violar o famoso embargo e absolutamente proibido de voltar a trabalhar com músicos daquelas paragens.
O CD, esse, foi censurado, proibida a distribuição naquele país, o "must" desta democrata...!
Boa viagem, Ruben.
09 dezembro 2003
Em torno do Niilismo e do Verbo
Vem a propósito das palavaras de FJV, segundo Steiner, o inumanismo da indiferença, e da Voz do Deserto, quando diz: (...) Não entendo os que se embaraçam com estas coisas. Desde o Éden que o Senhor nos condenou à linguagem. E há uma sublime eloquência nos gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26).
O VERBO, diria eu.
Se há ideologia que ainda atravessa o ar e os figurinos do pensamento, essa ideologia é o niilismo. 0 niilismo representa hoje a dissolução de qualquer fundamento último. As religiões deixaram de ser apólices de seguros, entraram no vórtice do tempo e fragmentaram-se, como a própria cultura. diz José Augusto Mourão nesta sua comunicação no Colóquo Internacional V de Discursos e Práticas Alquímicas cuja leitura integral recomendo vivamente.
O VERBO, diria eu.
Se há ideologia que ainda atravessa o ar e os figurinos do pensamento, essa ideologia é o niilismo. 0 niilismo representa hoje a dissolução de qualquer fundamento último. As religiões deixaram de ser apólices de seguros, entraram no vórtice do tempo e fragmentaram-se, como a própria cultura. diz José Augusto Mourão nesta sua comunicação no Colóquo Internacional V de Discursos e Práticas Alquímicas cuja leitura integral recomendo vivamente.
08 dezembro 2003
Grato Alívio
Como é sabido, entre os que a "Grande reportagem" faz falta, esta revista sofreu alterações quer quanto à peridiocidade como em relação à distribuição - de mensal a semanal, de publicação isolada a componente das edições de Sábado dos "Jornal de Notícias e "Diário de Notícias".
Anunciadas as alterações foi sendo adiada a edição do novo formato até ao passado dia 29 de Novembro. Surge então o seu n.º 151, sem surpresas, qualidade inferior do papel, um grafismo a aproximá-la de outra congénere, menos volume (decorrente da redução da periodicidade), onde o seu director, Francisco José Viegas, afirma logo em editorial a manutenção dos ideais que regeram esta revista desde o seu início com José Manual Barata-Feyo, passando a citar: Contra a voracidade das notícias - que se repetem nos jornais, na rádio, na televisão, a GRANDE REPORTAGEM preferiu sempre a ideia de contar histórias bem escritas sobre o que podia mudar a nossa vida, que leventassem suspeitas, que abrissem caminhos, que nunca se acomodassem, que raramente fossem dispensáveis, que não ficassem "prisioneiras da actualidade" nem devedoras do que a actualidade transformara.
O bom mote estava dado, a manutenção da direcção e da linha editorial, mas não basta como é sabido. Alterações, e logo estas duas que poderiam ferir a "personalidade" própria do projecto, provocam inevitavelmente grandes ajustamentos, em geral penosos se pessoas e seu inter-relacionamento envolverem, morosos até que uma nova normalidade se instale e frutifique numa nova rotina onde todos reconhecem o seu lugar e papel a desempenhar.
Foi no meio destas cogitações que abri o n.º seguinte, a de Sábado passado, receoso, talvez, mas abri... para só fechar no seu fim, passado umas 2 horas, emocionado com uma GRANDE mesmo muito GRANDE REPORTAGEM. De um só fôlego sorvi-a até ao "tutano"!
Que salientar? Muito difícil, comprem e leiam se ainda forem a tempo, mas são extraordinárias as reportagens " A Cidade dos Heróis" e "United States nos Açores", que não narram nem descrevem, colocam-nos lá, lá de dentro, "Nos Bastidores do Petróleo", "As Rosas de Tiblissi" e, como sempre, as crónicas de Barata-Feyo e (por que se ouvirá ainda tão pouco falar desta grande jornalista) Paula Moura Pinheiro.
Demorei um pouco a escrever sobre esta Grande Reportagem, estive para não o fazer, hesitei perante o risco de se pensar que o objecto seria "passar o sabonete" ao Aviz mas, mesmo correndo esse risco, não me senti confortável em guardar o que queria partilhar. Tal como enuncio na descrição deste Ideias Soltas, "se aqui não fora em mim só seria", preferi ser coerente, perante a concorrência de riscos - o já dito e o de me aviltar. Venceu o que em mim mais força teve. Risco assumido!
Anunciadas as alterações foi sendo adiada a edição do novo formato até ao passado dia 29 de Novembro. Surge então o seu n.º 151, sem surpresas, qualidade inferior do papel, um grafismo a aproximá-la de outra congénere, menos volume (decorrente da redução da periodicidade), onde o seu director, Francisco José Viegas, afirma logo em editorial a manutenção dos ideais que regeram esta revista desde o seu início com José Manual Barata-Feyo, passando a citar: Contra a voracidade das notícias - que se repetem nos jornais, na rádio, na televisão, a GRANDE REPORTAGEM preferiu sempre a ideia de contar histórias bem escritas sobre o que podia mudar a nossa vida, que leventassem suspeitas, que abrissem caminhos, que nunca se acomodassem, que raramente fossem dispensáveis, que não ficassem "prisioneiras da actualidade" nem devedoras do que a actualidade transformara.
O bom mote estava dado, a manutenção da direcção e da linha editorial, mas não basta como é sabido. Alterações, e logo estas duas que poderiam ferir a "personalidade" própria do projecto, provocam inevitavelmente grandes ajustamentos, em geral penosos se pessoas e seu inter-relacionamento envolverem, morosos até que uma nova normalidade se instale e frutifique numa nova rotina onde todos reconhecem o seu lugar e papel a desempenhar.
Foi no meio destas cogitações que abri o n.º seguinte, a de Sábado passado, receoso, talvez, mas abri... para só fechar no seu fim, passado umas 2 horas, emocionado com uma GRANDE mesmo muito GRANDE REPORTAGEM. De um só fôlego sorvi-a até ao "tutano"!
Que salientar? Muito difícil, comprem e leiam se ainda forem a tempo, mas são extraordinárias as reportagens " A Cidade dos Heróis" e "United States nos Açores", que não narram nem descrevem, colocam-nos lá, lá de dentro, "Nos Bastidores do Petróleo", "As Rosas de Tiblissi" e, como sempre, as crónicas de Barata-Feyo e (por que se ouvirá ainda tão pouco falar desta grande jornalista) Paula Moura Pinheiro.
Demorei um pouco a escrever sobre esta Grande Reportagem, estive para não o fazer, hesitei perante o risco de se pensar que o objecto seria "passar o sabonete" ao Aviz mas, mesmo correndo esse risco, não me senti confortável em guardar o que queria partilhar. Tal como enuncio na descrição deste Ideias Soltas, "se aqui não fora em mim só seria", preferi ser coerente, perante a concorrência de riscos - o já dito e o de me aviltar. Venceu o que em mim mais força teve. Risco assumido!
Ainda sobre a Inumana Indiferença
veja-se este post de JMF.
Não tenho nem devo valorar causas, repito, devemos assumir as que mais sentimos ou, utilizando as palavras de outrém, as que mais nos comovem, mas tomar a luta contra essa inumana indiferença que nos afecta a todos é que seria uma boa causa, uma das que rasgaria o cinzento espectro da anacrónica dicotomia - a de direita/esquerda - capaz de nos ajudar a ver, denunciar e lutar por nós, pelo que enquanto homens queremos ser.
Não tenho nem devo valorar causas, repito, devemos assumir as que mais sentimos ou, utilizando as palavras de outrém, as que mais nos comovem, mas tomar a luta contra essa inumana indiferença que nos afecta a todos é que seria uma boa causa, uma das que rasgaria o cinzento espectro da anacrónica dicotomia - a de direita/esquerda - capaz de nos ajudar a ver, denunciar e lutar por nós, pelo que enquanto homens queremos ser.
Ainda do Anti-Semitismo
Aviz responde a Terras do Nunca sobre o "anti-semitismo" sem retirar nada do que disse, antes acrescentando de forma a tornar mais perceptível o seu sentir, nesta questão.
E diz, que (...) não é só a questão palestiniana que está em causa (sobre isso já disse o suficiente e não preciso de reafirmar o mesmo de todas as vezes que falo do assunto: estado palestiniano, já; apoio — expectante — em relação ao documento de Genebra). É o anti-semitismo claro e histórico, tornando as suas apreensões muito mais claras. Francisco José Viegas retira deste anti-semitismo a carga da política mediática do dia-a-dia, transportando-a para uma outra dimensão temporal, a da longa duração, a da permanência de uma realidade instalada após o surto "civizacional" dos anos 30. Tudo fica mais claro!
Veja-se, citando Steiner, «ao contrário do que acontecia nas fantasias das fábulas apocalípticas do século XIX, a barbárie irrompeu do coração da Europa». E mais: «Minada pelo tédio e pela estética da violência, uma considerável fracção da intelligentsia e das instituições da civilização europeia — as letras, as universidades, o mundo das artes — deram mais ou menos calorosamente as boas-vindas à instauração da inumanidade.» Essa inumanidade é a indiferença. (...) Os meus receios sobre o anti-semitismo não têm a ver, unicamente, com as manifestações anti-judaicas, mas com a marca essencial da política comum europeia: a indiferença (a «terrível incapacidade de estupefacção»(...).
Desta forma o seu discurso torna-se perceptível, enquadrável e pleno de sentido, isto é, o do verdade histórica, que me coloca em total acordo, sem a mínima margem para dúvida.
Desta indiferença, desta inumanidade, que emanam do culto de um individualismo como receita para a saída da "Grande Depressão", conduziu-nos a um estado indiferença, nas palavras de FJV, perante os horrores que vamos assistindo sem estremecer, sem sequer nos inquietarmos. Tudo parece longe, afastado de nós, como se não fizéssemos parte, como se não fosse de nós!
Cansamo-nos com as notícias do sofrimento, enfadamo-nos com o que não nos dá lucro, lixo, puro lixo para o padrão mental que nos regemos.
Neste sentido, FJV, assenta a sua análise numa lógica irrefutável. Só que é esta mesma atitude, a de inumana indiferença, que também compreendemos a indiferença perante o sofrimento palestiniano, o sofrimento afegão e iraquiano e perante o mais grave, os milhões que em nosso redor de fome morrem, como uma banalidade, trivial ou, com um inumano conformismo, ou não será?
A denúncia de Aviz é pertinente mesmo que possa parecer desinserida de uma valoração de prioridades. Arma-se para combater essa cobarde indiferença e, como todos nós deveríamos ousar, defende uma causa, para ele a que mais o magoa, e isto torna-o humano, justo, coerente e lúcido. É que a valoração não tem de ser compatível com a propriedade que advém do politicamente mais correcto, antes deverá ser intrínseca ao nosso sentir.
Assim todos nós defendêssemos as causas que merecem ser denunciads e defendidas. FJV fá-lo.
E diz, que (...) não é só a questão palestiniana que está em causa (sobre isso já disse o suficiente e não preciso de reafirmar o mesmo de todas as vezes que falo do assunto: estado palestiniano, já; apoio — expectante — em relação ao documento de Genebra). É o anti-semitismo claro e histórico, tornando as suas apreensões muito mais claras. Francisco José Viegas retira deste anti-semitismo a carga da política mediática do dia-a-dia, transportando-a para uma outra dimensão temporal, a da longa duração, a da permanência de uma realidade instalada após o surto "civizacional" dos anos 30. Tudo fica mais claro!
Veja-se, citando Steiner, «ao contrário do que acontecia nas fantasias das fábulas apocalípticas do século XIX, a barbárie irrompeu do coração da Europa». E mais: «Minada pelo tédio e pela estética da violência, uma considerável fracção da intelligentsia e das instituições da civilização europeia — as letras, as universidades, o mundo das artes — deram mais ou menos calorosamente as boas-vindas à instauração da inumanidade.» Essa inumanidade é a indiferença. (...) Os meus receios sobre o anti-semitismo não têm a ver, unicamente, com as manifestações anti-judaicas, mas com a marca essencial da política comum europeia: a indiferença (a «terrível incapacidade de estupefacção»(...).
Desta forma o seu discurso torna-se perceptível, enquadrável e pleno de sentido, isto é, o do verdade histórica, que me coloca em total acordo, sem a mínima margem para dúvida.
Desta indiferença, desta inumanidade, que emanam do culto de um individualismo como receita para a saída da "Grande Depressão", conduziu-nos a um estado indiferença, nas palavras de FJV, perante os horrores que vamos assistindo sem estremecer, sem sequer nos inquietarmos. Tudo parece longe, afastado de nós, como se não fizéssemos parte, como se não fosse de nós!
Cansamo-nos com as notícias do sofrimento, enfadamo-nos com o que não nos dá lucro, lixo, puro lixo para o padrão mental que nos regemos.
Neste sentido, FJV, assenta a sua análise numa lógica irrefutável. Só que é esta mesma atitude, a de inumana indiferença, que também compreendemos a indiferença perante o sofrimento palestiniano, o sofrimento afegão e iraquiano e perante o mais grave, os milhões que em nosso redor de fome morrem, como uma banalidade, trivial ou, com um inumano conformismo, ou não será?
A denúncia de Aviz é pertinente mesmo que possa parecer desinserida de uma valoração de prioridades. Arma-se para combater essa cobarde indiferença e, como todos nós deveríamos ousar, defende uma causa, para ele a que mais o magoa, e isto torna-o humano, justo, coerente e lúcido. É que a valoração não tem de ser compatível com a propriedade que advém do politicamente mais correcto, antes deverá ser intrínseca ao nosso sentir.
Assim todos nós defendêssemos as causas que merecem ser denunciads e defendidas. FJV fá-lo.
05 dezembro 2003
Estimado Francisco José Viegas
Este seu post sobre o anti-semitismo revela muitas verdades (o crescente anti-semitismo entre os europeus), mas também alguma ligeireza na análise do porquê.
Bem veja, não posso senão consigo repudiar a não publicação do relatório Manifestations of Anti-Semitism in the European Union. É por demais evidente e preocupante o despudor com que a UE e os orgãos de comunicação social, em geral, passam por cima, ou ao lado (ainda não percebi) sobre a agudização deste tipo de problemas. No entanto, a confusão que muito bem denuncia entre judeus e israelitas, tem por base o próprio discurso dos israelitas que estão no poder, coadjuvado pelos judeus estadunidenses. O que começa a ser insustentável para a sustentação de Israel é precisamente o apoio incondicional dos Estados Unidos e do que eles representam a este governo israelita!
Ora, para a opinião pública, quer queiramos ou não, existe uma identificação entre judeus e israelitas. Por deficiente informação, sim, eu sei, por falta de substracto cultural, pois também, mas não deixa de ser condenável, concomitantemente, o silêncio que os mesmos orgãos de comunicação social votam aos movimentos de oposição a este governo israelita. Já reparou?
Com efeito, na minha modesta opinião, Israel (entenda-se o país e não os seus cidadãos e muito menos os judeus) é o principal responsável pela imagem que de si deu após rasgar os acordos conseguidos em Oslo. Esta marcha atrás e o retorno da ideia de "Grande Israel" de Ariel Sharon, conseguiu em pouco mais de um ano inverter a plácida simpatia dos europeus por aquele país.
De um Portugal pró-israelita nos anos 70, voltamo-nos para um Portugal, da direita à esquerda (usando dicotomia tradicional), pró-Resolução das Nações Unidas que Israel volta a não querer sequer equacionar. E vai continuando a construir o muro...
É evidente que desta política fundamentalista e isolacionista só Israel é responsável, não os judeus, mas dificilmente nos esquivaremos a não compreender os que a apoiam.
Já quanto ao Frei Bento e ao "exército judeu", se bem que seja de uma generalização infeliz, o Francisco José Viegas conhece bem melhor do que eu a razão de Israel acolher tantos judeus da diáspora, instalando-os em novos colonatos, mormente os dos países de Leste. Foi para alimentar o seu exército. Para todos os efeitos, apesar de ter afirmado que Israel é um país democrático, porque vai a votos regularmente e respeita os seus resultados, eu tenho dificuldade em considerar como democrático um Estado-Guerreiro qual Esparta! Todos os israelias são membros forçados das forças armadas do seu país, recebem treino periódico para o efeito e poderão ser chamados ao activo a qualquer momento. Isto não é novidade para si e, há cerca de um mês, quando defendeu um corrrespondente israelita de uma das nossas televisões, é bom que saiba que estava a defender a isenção de um jornalista que é simulâneamente coronel na reserva das forças armadas daquele país, posição que alcançou 2 anos após ter chegado a Israel, proveniente de Portugal, mais concretamente do Porto!
Diz o Francisco José Viegas que Outro ponto que me parece importante, deste relatório, é o facto de assumir que nos países da UE houve o cuidado de criar uma política de prevenção contra o anti-islamismo na sequência do 11 de Setembro, o que é verdade, mas mais verdade ainda é que a identificação entre terrorismo e islamismo é hoje muito mais vincada e divulgada "ad nauseum" por todo o mundo ocidental.
Com ou sem mandato das Nações Unidas nós, os Ocidentais, os "donos da verdade democrática", já proclamámos guerra, invadimos países, vilipendiámos povos em nome de uma guerra contra o terrorismo. Esses povos estão na miséria e os terroristas mais activos que nunca, enquanto Israel tem quase um protectorado dos Estados Unidos, o estandarte da nossa civilização.
Espero que aceite que, tal como o Francisco José Viegas, estou absolutamente contra qualquer acto ou tão-só indício xenófabo, mas seja em que em que caso ou particular situação fôr. Aliás, o regresso desta xenofobia ocidental e a facilidade com que se manifesta, no seu todo, é que me vai preocupando e, por mais voltas que dê, entronco sempre numa única explicação - a prepotência com que nos colocamos perante o mundo, julgando-nos superiores, seja a nível militar, ciêntífico, político, religioso e até cultural. Daqui advém a nossa cegueira...
Bem veja, não posso senão consigo repudiar a não publicação do relatório Manifestations of Anti-Semitism in the European Union. É por demais evidente e preocupante o despudor com que a UE e os orgãos de comunicação social, em geral, passam por cima, ou ao lado (ainda não percebi) sobre a agudização deste tipo de problemas. No entanto, a confusão que muito bem denuncia entre judeus e israelitas, tem por base o próprio discurso dos israelitas que estão no poder, coadjuvado pelos judeus estadunidenses. O que começa a ser insustentável para a sustentação de Israel é precisamente o apoio incondicional dos Estados Unidos e do que eles representam a este governo israelita!
Ora, para a opinião pública, quer queiramos ou não, existe uma identificação entre judeus e israelitas. Por deficiente informação, sim, eu sei, por falta de substracto cultural, pois também, mas não deixa de ser condenável, concomitantemente, o silêncio que os mesmos orgãos de comunicação social votam aos movimentos de oposição a este governo israelita. Já reparou?
Com efeito, na minha modesta opinião, Israel (entenda-se o país e não os seus cidadãos e muito menos os judeus) é o principal responsável pela imagem que de si deu após rasgar os acordos conseguidos em Oslo. Esta marcha atrás e o retorno da ideia de "Grande Israel" de Ariel Sharon, conseguiu em pouco mais de um ano inverter a plácida simpatia dos europeus por aquele país.
De um Portugal pró-israelita nos anos 70, voltamo-nos para um Portugal, da direita à esquerda (usando dicotomia tradicional), pró-Resolução das Nações Unidas que Israel volta a não querer sequer equacionar. E vai continuando a construir o muro...
É evidente que desta política fundamentalista e isolacionista só Israel é responsável, não os judeus, mas dificilmente nos esquivaremos a não compreender os que a apoiam.
Já quanto ao Frei Bento e ao "exército judeu", se bem que seja de uma generalização infeliz, o Francisco José Viegas conhece bem melhor do que eu a razão de Israel acolher tantos judeus da diáspora, instalando-os em novos colonatos, mormente os dos países de Leste. Foi para alimentar o seu exército. Para todos os efeitos, apesar de ter afirmado que Israel é um país democrático, porque vai a votos regularmente e respeita os seus resultados, eu tenho dificuldade em considerar como democrático um Estado-Guerreiro qual Esparta! Todos os israelias são membros forçados das forças armadas do seu país, recebem treino periódico para o efeito e poderão ser chamados ao activo a qualquer momento. Isto não é novidade para si e, há cerca de um mês, quando defendeu um corrrespondente israelita de uma das nossas televisões, é bom que saiba que estava a defender a isenção de um jornalista que é simulâneamente coronel na reserva das forças armadas daquele país, posição que alcançou 2 anos após ter chegado a Israel, proveniente de Portugal, mais concretamente do Porto!
Diz o Francisco José Viegas que Outro ponto que me parece importante, deste relatório, é o facto de assumir que nos países da UE houve o cuidado de criar uma política de prevenção contra o anti-islamismo na sequência do 11 de Setembro, o que é verdade, mas mais verdade ainda é que a identificação entre terrorismo e islamismo é hoje muito mais vincada e divulgada "ad nauseum" por todo o mundo ocidental.
Com ou sem mandato das Nações Unidas nós, os Ocidentais, os "donos da verdade democrática", já proclamámos guerra, invadimos países, vilipendiámos povos em nome de uma guerra contra o terrorismo. Esses povos estão na miséria e os terroristas mais activos que nunca, enquanto Israel tem quase um protectorado dos Estados Unidos, o estandarte da nossa civilização.
Espero que aceite que, tal como o Francisco José Viegas, estou absolutamente contra qualquer acto ou tão-só indício xenófabo, mas seja em que em que caso ou particular situação fôr. Aliás, o regresso desta xenofobia ocidental e a facilidade com que se manifesta, no seu todo, é que me vai preocupando e, por mais voltas que dê, entronco sempre numa única explicação - a prepotência com que nos colocamos perante o mundo, julgando-nos superiores, seja a nível militar, ciêntífico, político, religioso e até cultural. Daqui advém a nossa cegueira...
Mas que gaita...
Bloguítica, sob o título "Défice", chama a nossa atenção para a crónica de Miguel de Sousa Tavares, no Público.
Li!
Estou de acordo com algumas premissas, mas não me sinto bem em estar... com as conclusões.
Miguel de Sousa Tavares habituou-nos às suas firmes e finais conclusões. Gosto de o ler, tenho em especial apreço a liberdade do seu pensamento e a indepência do seu espírito, mas nem sempre sigo as suas "insofismáveis" posições.
No particular caso, MST, segue a nova moda de que são micro-empresas, afinal, que fogem aos impostos. Segue mal, muito mal, e sobre este assunto, um dia, talvez, escreva...
O que me apetece dizer a Miguel de Sousa Tavares sobre este seu artigo vai na trascrição deste email que recebi e que reproduzo, demagogicamente (será?), sem qualquer comentário, pois diz o que eu gostaria de ter dito.
Exs. Senhores Governantes e Candidatos a
Em cada 100 euros que o patrão paga pela minha força de trabalho, o Estado, e muito bem, tira-me 20 euros para o IRS e 11 euros para a Segurança Social. O meu patrão, por cada 100 euros que paga pela minha força de trabalho, é obrigado a dar ao Estado, e muito bem, mais 23,75 euros para a Segurança Social. E por cada 100 euros de riqueza que eu produzo, o Estado, e muito bem, retira ao meu patrão outros 33 euros. Cada vez que eu, no supermercado, gasto os 100 euros que o meu patrão me pagou, o Estado, e muito bem, fica com 19 euros para si.
Em resumo:
Quando ganho 100 euros, o Estado fica quase com 55. Quando gasto 100 euros, o Estado, no mínimo, cobra 19.
Quando lucro 100 euros, o Estado enriquece 33. Quando compro um carro, uma casa, herdo um quadro, registo os meus negócios ou peço uma certidão, o Estado, e muito bem, fica com quase metade das verbas envolvidas no caso.
Eu pago e acho muito bem, portanto, exijo: um sistema de ensino que garanta cultura, civismo e futuro emprego para o meu filho.
Serviços de saúde exemplares. Um hospital bem equipado a menos de 20 km de minha casa. Estradas largas, sem buracos e bem sinalizadas em todo o País.
Uma máquina fiscal que cobre igualitariamente os impostos.
Auto-estradas sem portagens.
Pontes que não caiam.
Tribunais com capacidade para decidir processos em menos de um ano
Eu pago, e por isso quero ter, quando lá chegar, a reforma garantida.
E jardins públicos e espaços verdes bem tratados e seguros.
Policia eficiente e equipada.
Os monumentos do meu País bem conservados e abertos ao público.
A recuperação e divulgação do nosso património arquictetónico, literário, plástico, musical, isto é, a nossa memória colectiva, a nossa identidade.
Uma orquestra sinfónica em cada região.
Filmes criados em Portugal.
E, no mínimo, que não haja um único caso de fome e de miséria nesta terra.
Na pior das hipóteses, cada 300 euros em circulação em Portugal garantem ao Estado 100 euros de receita.
Senhores Governantes e candidatos, cuidem das contas públicas para nos darem o que temos direito por cumprirmos o nosso dever.
Governem-se com o dinheirinho que lhes dou porque eu quero e tenho direito a tudo!
Li!
Estou de acordo com algumas premissas, mas não me sinto bem em estar... com as conclusões.
Miguel de Sousa Tavares habituou-nos às suas firmes e finais conclusões. Gosto de o ler, tenho em especial apreço a liberdade do seu pensamento e a indepência do seu espírito, mas nem sempre sigo as suas "insofismáveis" posições.
No particular caso, MST, segue a nova moda de que são micro-empresas, afinal, que fogem aos impostos. Segue mal, muito mal, e sobre este assunto, um dia, talvez, escreva...
O que me apetece dizer a Miguel de Sousa Tavares sobre este seu artigo vai na trascrição deste email que recebi e que reproduzo, demagogicamente (será?), sem qualquer comentário, pois diz o que eu gostaria de ter dito.
Exs. Senhores Governantes e Candidatos a
Em cada 100 euros que o patrão paga pela minha força de trabalho, o Estado, e muito bem, tira-me 20 euros para o IRS e 11 euros para a Segurança Social. O meu patrão, por cada 100 euros que paga pela minha força de trabalho, é obrigado a dar ao Estado, e muito bem, mais 23,75 euros para a Segurança Social. E por cada 100 euros de riqueza que eu produzo, o Estado, e muito bem, retira ao meu patrão outros 33 euros. Cada vez que eu, no supermercado, gasto os 100 euros que o meu patrão me pagou, o Estado, e muito bem, fica com 19 euros para si.
Em resumo:
Quando ganho 100 euros, o Estado fica quase com 55. Quando gasto 100 euros, o Estado, no mínimo, cobra 19.
Quando lucro 100 euros, o Estado enriquece 33. Quando compro um carro, uma casa, herdo um quadro, registo os meus negócios ou peço uma certidão, o Estado, e muito bem, fica com quase metade das verbas envolvidas no caso.
Eu pago e acho muito bem, portanto, exijo: um sistema de ensino que garanta cultura, civismo e futuro emprego para o meu filho.
Serviços de saúde exemplares. Um hospital bem equipado a menos de 20 km de minha casa. Estradas largas, sem buracos e bem sinalizadas em todo o País.
Uma máquina fiscal que cobre igualitariamente os impostos.
Auto-estradas sem portagens.
Pontes que não caiam.
Tribunais com capacidade para decidir processos em menos de um ano
Eu pago, e por isso quero ter, quando lá chegar, a reforma garantida.
E jardins públicos e espaços verdes bem tratados e seguros.
Policia eficiente e equipada.
Os monumentos do meu País bem conservados e abertos ao público.
A recuperação e divulgação do nosso património arquictetónico, literário, plástico, musical, isto é, a nossa memória colectiva, a nossa identidade.
Uma orquestra sinfónica em cada região.
Filmes criados em Portugal.
E, no mínimo, que não haja um único caso de fome e de miséria nesta terra.
Na pior das hipóteses, cada 300 euros em circulação em Portugal garantem ao Estado 100 euros de receita.
Senhores Governantes e candidatos, cuidem das contas públicas para nos darem o que temos direito por cumprirmos o nosso dever.
Governem-se com o dinheirinho que lhes dou porque eu quero e tenho direito a tudo!
04 dezembro 2003
Preservemos a nossa Gaita!
A importância que os irlandeses, escoceses e galegos dão ao culto da sua gaita deverá ser um exemplo a seguir por nós.
Poderá parecer estranho, até demasiadamente íntimo para aqui abordarmos o assunto, mas a verdade é que desde o sec. XVII que nos vimos a descuidar com a manutenção deste objecto lúdico que esteve presente no nosso imaginário durante mais de 15 séculos.
Não sabemos o que nos terá levado a abdicar deste culto, da sua utilização e demonstração, que se manteve no primeiro plano de todas as manifestações públicas, sagradas e profanas, de cariz festivo.
De há uns anos a esta parte, mais concretamente de há uns 5 anos, alguns, poucos, tentaram retomar o uso da nossa gaita, reaprendendo o seu manuseamento, a posição das mãos e seus movimentos, o cuidado posto na sua embocadura, enfim, tentando recuperar o perdido na nossa cultura, na nossa identidade.
Utilizaram a nomenclatura antiga para a descrever e erguer, com um odre de pele de chibo, que tem por função ser um depósito, o bocal, o ponteiro que se liga ao odre, o roncão, comprido tubo de vários segmentos, como poderão aqui constatar.
A reconquista deste laborioso, mas aprazível culto conduz-nos a Sendim. De Trás-os-Montes. Como se não bastasse o famoso culto da “Posta à Mirandesa”, Sendim tem sido palco do mais interessante Festival de Música Étnica do nosso país (arredado das “Agendas” mediáticas), reunindo todos os tocadores de gaita do mundo. Aí se retomou o gosto e se iniciou a sua divulgação pelo nosso país. Hoje temos já escolas de Tocador de Gaita, veja-se, e o número de praticantes não cessa de aumentar.
O Toni das Gaitas, José Maria Fernandes, e Ti Roque já gravaram algumas modas tradicionais em CD, conforme podem verificar e “O Porto Céltico” é um dos principais divulgadores.
Sendim promoveu o “Arribas Folk” e será já a 20 de Dezembro que se conhecerá o vencedor deste concurso, entre os 5 finalistas.
Que viva a gaita, a nossa, a de foles, e veja-se o que o Attambur faz pela música tradicional portuguesa que é um notável exemplo do que se deveria fazer na recuperação e divulgação de nós. Alguém conhece um site de qualidade similar para a música clássica portuguesa? Ponha-se aqui os olhos!
Então quando me lembro o enquistado acervo fonográfico da Antena 2 e da RTP, perco a piada e esmoreço-me.
Bem hajam os que por bem agem e cujo retorno que buscam é o de bem agir, mesmo sem voz nas televisões, rádios ou jornais.
Vivam os novos Tocadores de Gaita, porra!
Poderá parecer estranho, até demasiadamente íntimo para aqui abordarmos o assunto, mas a verdade é que desde o sec. XVII que nos vimos a descuidar com a manutenção deste objecto lúdico que esteve presente no nosso imaginário durante mais de 15 séculos.
Não sabemos o que nos terá levado a abdicar deste culto, da sua utilização e demonstração, que se manteve no primeiro plano de todas as manifestações públicas, sagradas e profanas, de cariz festivo.
De há uns anos a esta parte, mais concretamente de há uns 5 anos, alguns, poucos, tentaram retomar o uso da nossa gaita, reaprendendo o seu manuseamento, a posição das mãos e seus movimentos, o cuidado posto na sua embocadura, enfim, tentando recuperar o perdido na nossa cultura, na nossa identidade.
Utilizaram a nomenclatura antiga para a descrever e erguer, com um odre de pele de chibo, que tem por função ser um depósito, o bocal, o ponteiro que se liga ao odre, o roncão, comprido tubo de vários segmentos, como poderão aqui constatar.
A reconquista deste laborioso, mas aprazível culto conduz-nos a Sendim. De Trás-os-Montes. Como se não bastasse o famoso culto da “Posta à Mirandesa”, Sendim tem sido palco do mais interessante Festival de Música Étnica do nosso país (arredado das “Agendas” mediáticas), reunindo todos os tocadores de gaita do mundo. Aí se retomou o gosto e se iniciou a sua divulgação pelo nosso país. Hoje temos já escolas de Tocador de Gaita, veja-se, e o número de praticantes não cessa de aumentar.
O Toni das Gaitas, José Maria Fernandes, e Ti Roque já gravaram algumas modas tradicionais em CD, conforme podem verificar e “O Porto Céltico” é um dos principais divulgadores.
Sendim promoveu o “Arribas Folk” e será já a 20 de Dezembro que se conhecerá o vencedor deste concurso, entre os 5 finalistas.
Que viva a gaita, a nossa, a de foles, e veja-se o que o Attambur faz pela música tradicional portuguesa que é um notável exemplo do que se deveria fazer na recuperação e divulgação de nós. Alguém conhece um site de qualidade similar para a música clássica portuguesa? Ponha-se aqui os olhos!
Então quando me lembro o enquistado acervo fonográfico da Antena 2 e da RTP, perco a piada e esmoreço-me.
Bem hajam os que por bem agem e cujo retorno que buscam é o de bem agir, mesmo sem voz nas televisões, rádios ou jornais.
Vivam os novos Tocadores de Gaita, porra!
03 dezembro 2003
A entrevista de Pedro Roseta ao JL
Esta edição do Jornal de Letras,a 865ª, está excelente, não só pela entrevista ao Ministro da Cultura, mas também pelo espaço que dedica à Educação Artística, ao seu presente e perspectivas futuras. A mim, vai servir-me para algumas reflexões que aqui quero partilhar, sem deixar de aconselhar vivamente a leitura na própria fonte.
José Carlos de Vasconcelos reconhece desde logo no seu editorial que a publicação que dirige tem dado pouco espaço à política cultural, como esta merece, mas enaltece algumas qualidades de Paulo Roseta no exercício das suas funções.
Transcrevo:
Quando tratamos o tema (política cultural) fazemo-lo na exclusiva óptica, que é em todos os domínios e todas as circunstâncias do JL, do que entendemos ser o melhor para a própria cultura (em sentido amplo) portuguesa e para a lusofonia. Ou seja: sem cuidar de aspectos político-partidários, nem "guerras" de interesses, grupos, lóbis e personalidades - algumas tão ciosas de si, com uma desmedida sede de protagonismo.
(...)
Vem isto a propósito do ministro Pedro Roseta e da longa entrevista que com ele publicamos nesta edição (pags. 8/11!).
(...)
Vê-se perfeitamente que Pedro Roseta é um homem de seu natural nada dogmático nem auto-convencido (o que é muito bom), pouco afirmativo, que cultiva a dúvida e procura ter o maior número possível de elementos para decidir (o que é muito mau).
(...)
O segundo aspecto, e para mim de grande relevância - do ponto de vista humano, da seriedade e do carácter, que cada vez mais tendo a privilegiar nas pessoas, mesmo nos políticos... - , é a sua forma de ser e de estar, em absoluto valorizando o que faz ou deve fazer e "apagando" a sua própria figura. E no meio de tanta vaidade, promoção pessoal e ambição tola, de tanto interesse próprio ou de clã travestido de outras roupagens, chega a ser para mim tocante o que outros considerarão pelo menos ingénuo: que alguém veja ainda em ser governante uma simples forma de "dádiva"!
E antes de abordar o conteúdo da entrevista deixo estas palavras de José Carlos de Vasconcelos que muito gratamente subscrevo. Pedro Roseta, à parte o seu desempenho, é para mim um dos modelos do que deve ser uma figura pública com responsabilidades decisórias.
Esta edição do Jornal de Letras,a 865ª, está excelente, não só pela entrevista ao Ministro da Cultura, mas também pelo espaço que dedica à Educação Artística, ao seu presente e perspectivas futuras. A mim, vai servir-me para algumas reflexões que aqui quero partilhar, sem deixar de aconselhar vivamente a leitura na própria fonte.
José Carlos de Vasconcelos reconhece desde logo no seu editorial que a publicação que dirige tem dado pouco espaço à política cultural, como esta merece, mas enaltece algumas qualidades de Paulo Roseta no exercício das suas funções.
Transcrevo:
Quando tratamos o tema (política cultural) fazemo-lo na exclusiva óptica, que é em todos os domínios e todas as circunstâncias do JL, do que entendemos ser o melhor para a própria cultura (em sentido amplo) portuguesa e para a lusofonia. Ou seja: sem cuidar de aspectos político-partidários, nem "guerras" de interesses, grupos, lóbis e personalidades - algumas tão ciosas de si, com uma desmedida sede de protagonismo.
(...)
Vem isto a propósito do ministro Pedro Roseta e da longa entrevista que com ele publicamos nesta edição (pags. 8/11!).
(...)
Vê-se perfeitamente que Pedro Roseta é um homem de seu natural nada dogmático nem auto-convencido (o que é muito bom), pouco afirmativo, que cultiva a dúvida e procura ter o maior número possível de elementos para decidir (o que é muito mau).
(...)
O segundo aspecto, e para mim de grande relevância - do ponto de vista humano, da seriedade e do carácter, que cada vez mais tendo a privilegiar nas pessoas, mesmo nos políticos... - , é a sua forma de ser e de estar, em absoluto valorizando o que faz ou deve fazer e "apagando" a sua própria figura. E no meio de tanta vaidade, promoção pessoal e ambição tola, de tanto interesse próprio ou de clã travestido de outras roupagens, chega a ser para mim tocante o que outros considerarão pelo menos ingénuo: que alguém veja ainda em ser governante uma simples forma de "dádiva"!
E antes de abordar o conteúdo da entrevista deixo estas palavras de José Carlos de Vasconcelos que muito gratamente subscrevo. Pedro Roseta, à parte o seu desempenho, é para mim um dos modelos do que deve ser uma figura pública com responsabilidades decisórias.
01 dezembro 2003
1º de Dezembro - pensamentos cruzados
“O Rumor de Espanha”,
assim de chamava o artigo de Eduardo Lourenço na Visão n.º 559, de 20 de Novembro, pag. 96.
Da unidade de Espanha à unicidade da Península Ibérica, do todo e das partes, ou das partes negadas que fazem o todo, é destas cogitações que se nos alimenta Eduardo Lourenço, sem uma conclusão, sem reprimenda, perante o eternamente adiado óbvio, inquietações que promove, nas as enuncia, apenas pretende que delas nos consciencializemos, antigas, mas pouco presentes, arredadas do dia a dia da “Agenda” imposta...
Transcreverei, sem um comentário, para partilharem salutarmente destas inquietações.
Seria estranho que aqui, ao lado de Espanha, de novo florescente potência europeia (quase excepção na sua genérica potência), não nos déssemos conta do mau estado político de fundo que ensombra aquilo que não é demais chamar “o milagre espanhol dos últimos 20 anos.
(...) esta Espanha que tem cravado no seu flanco o espinho basco, mas também o mais antigo sonho catalanista de se tornar nação assumida, e outros ainda menos virtuais mas não menos exigentes, não está nada interessada em separar-se da Europa em que retomou o seu antigo lugar imperial, mas apenas atenta a não se perder de si mesma.
(...) É estranho mas sintomático que o nosso discurso cultural, e ainda mais o político, reservem pouco espaço à questão que a Espanha é para si mesma.(...) Ora o futuro da Espanha interessa-nos vitalmente e é pouco lembrarmo-nos dele apenas em função da nossa histórica desconfiança e instintivo pânico.
(...) as tensões separatistas, independentistas ou autonomistas duras, não só questionam a Espanha no seu todo como exigem uma resposta do tipo novo.
(...) À primeira vista, estas reivindicações nacionalistas em tempos de construção europeia, obedecendo em princípio à supranacionalidade ou para ela tendendo, não nos diz directamente respeito. Quer dizer, a nós portugueses. Mas é um engano. Para nós, a nossa excepção de velha Nação política, cultural e historicamente, senão orgânica, coerente como poucas, na Europa e no Mundo, não é, claro está, problema. Mas não podemos impedir que o seja aos olhos dos outros e, em particular, no quadro da península.
Confessando-o ou não, todas as “nações virtuais” do espaço ibérico se sonham, ou já se vivem, como Portugais frustados ou portugais futuros. Tanto mais que, à parte essa incomum coerência identitária que nos é própria, qualquer dessas autonomias ou regiões são, objectivamente, mais ricas e poderosas que o nosso pequeno país.
(...)Pede-se à actual Espanha que aceite ou se prepare, quaisquer que sejam as suas consequências, para a proclamação unilateral duma superautonomia, cujo nome exacto e fatal não é outro que o de independência. Se a esta perspectiva se junta análoga pretensão da Catalunha, exigindo um alto grau de autonomia próximo do de Nação, também se vê mal como harmonizar essa hipótese coma a da actual Espanha, não só herdada de Franco, como de uma longa e complexa história em contínua reestruturação de cuja unidade, poder e sentido, se construíram mais de fora (da América) que de dentro.
(...) É uma questão política de uma Nação que surgiu de nações e ainda não se converteu numa espécie de Estados Ibéricos, onde os seus históricos egoísmos nacionais se dissolvem. Ou, na ausência dessa impossível coexistência, se harmonizassem. Só os espanhóis podem imaginar a solução para conviverem, aceitando-se, com as sua “pátrias virtuais. (...)"
assim de chamava o artigo de Eduardo Lourenço na Visão n.º 559, de 20 de Novembro, pag. 96.
Da unidade de Espanha à unicidade da Península Ibérica, do todo e das partes, ou das partes negadas que fazem o todo, é destas cogitações que se nos alimenta Eduardo Lourenço, sem uma conclusão, sem reprimenda, perante o eternamente adiado óbvio, inquietações que promove, nas as enuncia, apenas pretende que delas nos consciencializemos, antigas, mas pouco presentes, arredadas do dia a dia da “Agenda” imposta...
Transcreverei, sem um comentário, para partilharem salutarmente destas inquietações.
Seria estranho que aqui, ao lado de Espanha, de novo florescente potência europeia (quase excepção na sua genérica potência), não nos déssemos conta do mau estado político de fundo que ensombra aquilo que não é demais chamar “o milagre espanhol dos últimos 20 anos.
(...) esta Espanha que tem cravado no seu flanco o espinho basco, mas também o mais antigo sonho catalanista de se tornar nação assumida, e outros ainda menos virtuais mas não menos exigentes, não está nada interessada em separar-se da Europa em que retomou o seu antigo lugar imperial, mas apenas atenta a não se perder de si mesma.
(...) É estranho mas sintomático que o nosso discurso cultural, e ainda mais o político, reservem pouco espaço à questão que a Espanha é para si mesma.(...) Ora o futuro da Espanha interessa-nos vitalmente e é pouco lembrarmo-nos dele apenas em função da nossa histórica desconfiança e instintivo pânico.
(...) as tensões separatistas, independentistas ou autonomistas duras, não só questionam a Espanha no seu todo como exigem uma resposta do tipo novo.
(...) À primeira vista, estas reivindicações nacionalistas em tempos de construção europeia, obedecendo em princípio à supranacionalidade ou para ela tendendo, não nos diz directamente respeito. Quer dizer, a nós portugueses. Mas é um engano. Para nós, a nossa excepção de velha Nação política, cultural e historicamente, senão orgânica, coerente como poucas, na Europa e no Mundo, não é, claro está, problema. Mas não podemos impedir que o seja aos olhos dos outros e, em particular, no quadro da península.
Confessando-o ou não, todas as “nações virtuais” do espaço ibérico se sonham, ou já se vivem, como Portugais frustados ou portugais futuros. Tanto mais que, à parte essa incomum coerência identitária que nos é própria, qualquer dessas autonomias ou regiões são, objectivamente, mais ricas e poderosas que o nosso pequeno país.
(...)Pede-se à actual Espanha que aceite ou se prepare, quaisquer que sejam as suas consequências, para a proclamação unilateral duma superautonomia, cujo nome exacto e fatal não é outro que o de independência. Se a esta perspectiva se junta análoga pretensão da Catalunha, exigindo um alto grau de autonomia próximo do de Nação, também se vê mal como harmonizar essa hipótese coma a da actual Espanha, não só herdada de Franco, como de uma longa e complexa história em contínua reestruturação de cuja unidade, poder e sentido, se construíram mais de fora (da América) que de dentro.
(...) É uma questão política de uma Nação que surgiu de nações e ainda não se converteu numa espécie de Estados Ibéricos, onde os seus históricos egoísmos nacionais se dissolvem. Ou, na ausência dessa impossível coexistência, se harmonizassem. Só os espanhóis podem imaginar a solução para conviverem, aceitando-se, com as sua “pátrias virtuais. (...)"
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