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29 novembro 2003

Ansioso por lhe deitar as mãos...

Recebo via correio electrónico, de Belmiro Oliveira, uma prenda de Natal antecipada! Ora vejam:

Caro Carlos Alves,

A Campo das Letras acaba de editar um livro da autoria de Raúl Ferreira (filho de Gomes Ferreira) e do conhecido Arq.Romeu Pinto da Silva "Música, minha antiga companheira desde os ouvidos da infância",
uma antologia de textos de Gomes Ferreira sobre a música. São mais de 300 páginas do grande poeta.

Uma maravilha. Sonhei com isto durante anos - selecionar tudo o que ele escreveu sobre música.
Felizmente que gente mais capaz e com mais conhecimentos também teve essa ideia.


Vou já correr tentar agarrá-lo. Belíssima sugestão!
Obrigado, Belmiro Oliveira.

28 novembro 2003

De regresso à Música

Amanhã é dia de Brendel, um dos melhores entre os maiores pianistas de todos os tempos, na Gulbenkian, às 7 da tarde, Beethoven, as 4 primeiras Bagatelas, Rondós, op. 51 n.º 1 e 2 e a sonata n.º 11, de Mozart a sonata K. 576 e a sonata D.480 de Schubert.

Alfred Brendel é talvez o mais reconhecido intérprete vivo de Beethoven embora não se conheça nem gravado nem ao vivo uma prestação que não seja de elevada intensidade musical e técnica. Curiosamente foi quase um autodidacta, nascido na Morávia, hoje República Checa, residindo em Londres de há uns anos a esta parte.
Tem gravado Beethoven, Schubert, Schumann, Mozart, Mussorgsky, Liszt, Schöenberg, mas nunca Chopin. Perguntaram-lhe porquê em reportagem para a BBC, em 2001, ano em que completou 70 anos. Porque nada tenho a acrescentar, disse humildemente, ao que Cortot deixou.
Deixo as palavras àcerca deste personagem ímpar do piano de outro músico:

I was right at the beginning of my twenties when I first worked with him and he's since become a very good friend. But I can remember the first performance just thinking what he is asking me to do is so difficult and is such a stretch. I really despaired at one point that I would ever be able to. Nowadays what he asks is just bloody difficult instead of completely impossible and we've done so much together that I think we understand each other's rhythms.
Disse Simon Rattle.

Resta-me a mágoa de não poder estar presente neste fim de tarde que se prevê muito elevado.
Vão, quem puder não perca, não deixe a vida passar ao lado!

27 novembro 2003

Vá lá, dêem

aqui, no Fórum de Música Clássica, uma ajuda à Catarina. Ela anda mesmo à rasca com as prendas de Natal!

Prosseguindo no critério

que enunciei aqui vão mais uns links. Recordo, apenas os que leio. Associação de Radicais pela Ética, Castor de Mármore, Encapuzado Extrovertido, Letras para Ensonar, e Planície Heróica.
Que os leio diariamente é que já não posso continuar a garantir.

Parece que

mesmo demarcando-se do meu idealismo, Bloguítica diz:

Este facto e’ ainda mais preocupante se se tiver em conta que esta e’ a grande – e unica – bandeira deste Governo.

Afinal, seguindo o seu pragmatismo foi encontar a conclusão a que o meu idealismo me guiou.

A solução é uma só - a evidência da queda da substância.

Pois é

JMF, é a verdade dos fundamentalismos, a verdade dos que se proclamam detentores da verdade. Mas o mesmo se aplica aos muçulmanos quando consideram todo o Ocidente como anti-islamista. Veja-se para o que Aviz alertou.
Mas, felizmente, há muitos judeus, muçulmanos e americanos que assim não pensam. Talvez por não estarem cegos por um «Cânone», por eles pensem.

Não me tenho dado nada mal

em começar os dias pelas as palavras que o Silêncio transcreve. O meu muito obrigado.

26 novembro 2003

Para acabar com este ridículo

Bloguítica apelida-me gentilmente de idealista, tal como a este Adufe mas, apesar de compreender a defesa que faço da ética, diz:

Compreendo e partilho algumas das preocupações dos idealistas, mas nao concordo com a forma como tendem a gerir as situações de confronto entre os ideais e a realidade.

Eu também compreendo o que pretnde dizer, é que por vezes somos levados, pela força das coisas, pela tal realidade, a transgredirmo-nos, a negarmo-nos, a pecarmos... Pois pecamos e não acreditando eu na absolvição advinda da confissão, creio na honra com que nos devemos revestir para dizer que pecámos e que tentaremos não voltar a errar.
Este idealismo que me aconchega (não nego a justeza do epípeto do Bloguítica) não me cega, no entanto, perante a realidade. Esta é por nós também erigida e ao arredarmos da sua construção a ética, por força de uma outra suposta realidade sem ética, mais não estaremos senão a contribuir para a anti-ética, para o tal pragmatismo, que hoje se diz, mas que prefiro um vocábulo mais adequado - niilismo -“ que cerca e mina a relação do Homem consigo próprio, em nome daquilo que o Homem considera, momentaneamente, mais adequado.

Mas, adiante, sem cegueiras, desçamos à tal realidade preconizada, ao que de facto aconteceu, para constatarmos, sem necessitarmos de grandes exercícios éticos ou morais, que este Governo se auto-purgou da substância de que se investiu. Negou por completo o seu zénite, como diz o Irreflexões e o Terras do Nunca, e tal como Judas, por outras palavras, num só acto, mostrou que até agora andou enganado e tudo o que fez deverá estar mal feito pois a sua sustentação é errada e socialmente injusta.

Ora, perante esta realidade só me parece ver uma saída - a demissão.

Não se ligue, contudo, ao que eu digo, meti-me num assunto que de todo não domino, esta coisa que se apelida de política, devendo ser essa a razão de não ter visto ninguém a pensar como eu 8 excepção feita ao personagem que já falámos) e, assim sendo, democraticamente me demito de mais opinião emitir. Quem sou eu afinal, tão-só um marginal assumido.

Veja-se, como se pode ler em Janela para o Rio, o Ministro das Finanças francês já veio dizer que em 2001 a UE foi demasiadamente severa com Portugal (que foi muito menos severa do que este Governo o foi para com o que o precedeu) e, por isso, tudo me leva a crer na justeza do Crítico quando parodiando diz, coça-me as costas que eu coço-te as tuas.

Para quando o fim deste oportunista ideário de um Bloco Central que teima em se perpetuar desde 1983?

25 novembro 2003

Ridí­culo, ainda mais ridí­cula

a justificação do senhor Primeiro Ministro. Veja-se o que aqui se lê:

Não pretendemos ser «mais papistas do que o papa, a querer punir paí­ses que tiveram dificuldades que nós entendemos», disse Durão Barroso, acrescentando que esta é a posição «correcta, que defende o interesse portuguesa», e uma visão portuguesa da «cumplicidade e solidariedade europeia».

Regressando à  ética que defendi como orientadora de comportamentos e atitudes pergunto:

1 - o governo andou a enganar-nos quanto à  importância de cumprir o pacto de estabilidade?

2 - se votar favoravelmente a situaçao de excepção para a Alemanha e a França é do interesse nacional pode-se depreender que este governo nunca o defendeu até agora, obrigando ao estrangulamento e paralisia da economia?

3 - se são dificuldades que o senhor Primeiro Ministro entende porque não as entendeu quando tomou posse e acusou e recorre na acusação de condenar o anterior governo?

É por não encontrar respostas a estas e outras questões de princí­pio que há muito, para meu desgosto, perdi a confiança nos nossos polí­ticos e até nesta coisa viscosa a que chamam democracia parlamentar.

É este o paradigma polí­tico que imperialmente querem implementar por esse mundo fora? Com que moral?

Ora, ora...

Mais ridículo que o ridículo é o ridículo de se saber ridículo

Fala-se, na Bloguitica, na Janela para o Rio e nestas Irreflexões, do pedido de demissão da Sra. Ministra das Finanças por parte do Dr. Manuel Monteiro.
Não, não quero saber se Manuel Monteiro se antecipou ao PS, ao PCP ou ao BE ou ao futuro Rei de Inglaterra!
Também não quero saber que apesar da senhora Ministra ter votado favoravelmente à excepção não a pediu para Portugal (em abono da verdade de nada adiantaria um hipotético pedido antes de ele ser previamente concedido a países como a Alemanha ou a França)!
O que me importa é pugnar para que a ética tenha de estar consubstanciada na política, na estratégia, na sociedade, na escola e em casa.
Ora ouvir a Sra. Dra. Manuela Ferreira Leite, diariamente desde a sua tomada de posse, dizer que o tecto de 3% de défice público é o primeiro desígnio nacional e agora votar favoravelmente o estado de excepção revela uma falta, no mínimo, de respeito por quem a tomou a sério desde então. Aos princípios éticos orientadores da conduta não se podem sobrepor os interesses conjunturais ou de ocasião.
Em boa verdade a senhora Ministra, num só acto, esvaziou por inteiro a razão de ser Ministra. Negou o seu único objectivo!
É, para mim evidente, que a senhora Ministra se deveria demitir assim como o senhor Primeiro-Ministro se de acordo com o voto da sua Ministra estiver.
A não ser assim, não vale a pena dar o mínimo de crédito aos políticos por mais que o Presidente da República o peça.

"Aceno" de José Peixoto

Excelente este primeiro "Aceno" de José Peixoto com as suas guitarras acústicas. Um CD de músicas do próprio e as participações de Manuela Azevedo, Mário Delgado, José Salgueiro, Mário Franco, Filipa Pais, Mário Barreiros, Quiné e, imagine-se, Ralf Towner.

Um trabalho muito bem cuidado (ou não tivesse a mão de Mário Barreiros), onde se sente a inspiração da música tradional portuguesa condimentada, aqui e ali, com influência mourisca, por exemplo em "Mais uma tarde", "Doce Crescente" e "Lua, que tens?". "Espaços" com Ralf Towner é inadjectivável, ouça-se, assim como "Caixinha de Pandora", com Manuela Azevedo cantando um texto de Sérgio Godinho.

Enfim, um trabalho seguramente entre os melhores de música portuguesa deste 2003.

Música Portuguesa no Reino Unido

Como é que agora se diz, incontornável, parece, é, é, ler o que o Crítico aqui divulgou.

Só para ler isto

que Bloguitica divulgou. Pergunto só se o voto favorável da Sra. Ministra das Finanças se traduzirá apenas nas contas públicas ou se será também favorável a aliviar o garrote que impõe aos cidadãos?

24 novembro 2003

"A imperiosa necessidade de uma reforma global"

Resume-se, no entender do Prof, Freitas do Amaral, na introdução de uma cadeira de Cultura Geral no ensino secundário e justifica que Os alunos vêm do Secundário sem qualquer ideia firme da cronologia (...), que Há cerca de 15 ou 20 anos fez-se uma experiência na Universidade Católica, sob proposta minha: acrescentar às provas de admissão a Direito um exame escrito de Cultura Geral. Os resultados foram tão negativos que teve de se abolir a experiência, sob pena de não entrar quase ninguém...”.

É muito acertado e pertinente o problema que o Professor aborda, logo em título, Crise do Ensino Secundário, mas perante tamanha desgraça, sim, estamos na cauda da Europa dos 15 e arriscamo-nos a passar para o terço inferior da Europa 25, como diz o Sr. Prof., mas qual gesto de mágica a coisa resolve-se com uma cadeirita de Cultura Geral no secundário?
Não, Francisco José Viegas diz bem, O problema é que a cultura geral verdadeira não é uma especificidade mas uma generalidade que resulta do interesse pessoal; esse interesse vem da frequência das «disciplinas do Cânone»”.
Mas como se desperta esse interesse pessoal? A resposta vem pronta, de Aviz, O apelo constante para ceder à mediocridade na escola, na televisão, nos jornais, na vida política, é que destruiu a cultura geral.

Pois é, tem razão o Porfessor, tem razão o Francisco José Viegas, tem razão o Fogotabrase, mas será de ficarmos assim..., por aqui só? Após dezenas de reformas e contraformas cruzamos os braços no meio desta merda que é a educação em Portugal? Foda-se meus desconhecidos amigos , esta merda vale a pena e se não valer, pouco ou nada mais valerá!

De que adianta falar de produtividade, de eficácia e eficiência, de sabermos quem somos, onde estamos, para onde queremos ir, se abdicarmos deste debate. A solução de freitas do Amaral só lembraria à sua geração, é certo, mas a sua apreensão é fantasmagoricamente real, fulcral, aliás!

Só escrevo lençois pr’aqui neste blogue, mas como falar disto sem ser do princípio e devagar?
Que é isso de cultura geral? Para que servirá? Apenas para gozo próprio?
Não haverá uma confusão de conceitos, de significados?
Estou fora, não tenho aqui à mão dicionários nem enciclopédias, mas ainda assim arrisquemos. O espírito do “Ensaio” de Freitas do Amaral na última página desta Visão de 20 de Novembro não é o de falta de cultura geral, talvez falta de informação memorizada o que de forma alguma eu confundo com o significado de cultura. Vamos por passos, a informação é transmitida, o receptor (falamos de alunos) memoriza-a ou não; seguidamente poderá assimilá-la, isto é confrontá-la com outras informações já retidas e incorporá-la, dar-lhe um sentido; depois, sim depois, poderá criar, dar, avançar, sendo este último produto, e só este, um acto de cultura.
Com efeito não existe o conceito de “cultura geral” embora o empreguemos amiúde, existe isso sim, lendo o que Freitas do Amaral quererá dizer, pessoas com mais ou menos informação memorizada a que eu chamo de eruditas, não forçosamente cultas.
Aliás, se o Prof. tentasse a experiência do exame escrito junto dos seus pares se calhar ficaria ainda mais escandalizado! Não duvido que soubessem situar no tempo a Idade Média, a Moderna, A Contemporânea e mesmo as mais distantes, mas se lhes fose perguntado quais as permanências, as mutuções os ritmos de mudança (assimilação da informação que está para além da erudição), o resultado seria deprimente, estou seguro.
Cultura hoje nem se consegue delimitar. Alguém eu seu perfeito juízo saberá definir a Cultura Portuguesa, a Minhota, a Transmontana, a Alentejana, a Europeia? Não, impossível, de multi-culturalidades e de inter-culturalidades se pode hoje abordar correndo o risco de ser um debate sem conclusão definitiva.
Mas será razão para nos afastarmos da busca de uma identificação? Sim, porque antes de tudo o mais a cultura analisável é a globalidade de actos passados que definem determinado grupo e que socialmente o integram, ou não, mas é reconhecível e palpável. Assim não existe uma cultura mas uma interdependência de actos culturais que se cruzam, que se interpenetram, que se completam, que se negam, que nos enformam e formam em grupo.
Daí o anacronismo da Cultura Geral. Veja-se, serão os nosso filhos mais sensíveis aos produtos musicais da MTV ou ao Fausto, à Ronda dos Quatro Caminhos ou aos Adiafa? Infelizmente não temos dúvidas que o que a MTV passa corresponde a 97% das vendas de CD’s nos EEUU e Europa e 93% em Portugal.

E, de novo regressemos à educação, à tal reforma, revolução ou reestruturação se preferirem.
Dos Pais, não vale a pena bater no ceguinho, não vale a pena dizer que são maus Pais, que não querem saber dos filhos. Por aqui começamos, pela noção de família tão cara, pelo menos no passado, ao nosso Professor. Da grande família, avós, pais, filhos e netos, passámos para a família intermédia de avós, pais e filhos, e hoje reduzida, núclear, pais e filhos, que não têm tempo uns para os outros, tentando os primeiros atribuir à Escola as suas próprias atribuições. E não é no secundário, como diz Freitas do Amaral, é desde o fim da amamentação caso ela tenha sido feita.
Cuidam que adiantará dizer aos Pais que têm de ter tempo e disponibilidade para os filhos ou aos professores que não têm de ensinar básicas regras de saber estar e ser com os outros? A meu ver é tempo perdido! Uma luta inglória sem vitoriosos a não ser a marginalidade ou se preferirem, mais digerível, a desinserção social.

Mas se é na Escola, que pode esta fazer? Como, para quê e para onde? Por que caminho? Que temos hoje de certo para o amanhã?
Também não tenho, mas deixo dicas para o caso de pretenderem debater.
Os alunos, desde o básico, estão sobrecarregados de disciplinas, de vários professores que lhes exigem o mesmo de muitas e variadas coisas...! Os alunos sentem-se perdidos nesta generalização da especialidade; a informação passada é de difícil assimilação se não conjugada como deveria ser! Que fazer? Aumentar as disciplinas, as horas de aulas, outra metodologia?
Se se considera que a Escola tem de promover a instrução e sociabilização dos seus alunos (como eu penso), muito há a fazer. Veja-se, falo de sobrecarga e ao mesmo tempo a Escola está ainda muito aquém de prestar o mínimo para uma saudável formação, lembremo-nos da expressão musical, corporal, dramática, pictórica...

Sete, sete disciplinas até ao final do ensino básico: português, matemática, física, química, biologia, informática, humanidades e expressões artísticas. Em humanidades dever-se-ia elaborar um programa que antes do mais transmitesse os valores que nos identificam enquanto cidadãos portugueses, europeus e do mundo, de forma harmoniosa com recurso às ciências geográficas, históricas, filosóficas e línguas estrangeiras. Nas expressões artísticas a Escola deveria estar apta a proporcionar de forma integrada o acesso ao ensino e desenvolvimento das capacidades das artes visuais, da leitura, da expresão musical, corporal e dramática.
Esta é uma ideia, mas uma ideia que obrigaria a Escola a ter mais tempo consigo alunos, que lhes desse oportunidade de procurarem o seu caminho, dando-lhes a conhecer não o devir, mas o que somos. A foma de melhor equacionarmos o futuro é conhecendo o passado e sabermos onde está o presente.

Mas a Escola consegue assumir este papel? De forma alguma, tal como se encontra estabelecida, dividida entre esfregas de espúrios cumprimentos de programas e o desinteresse dos seus pupilos. Mas porque carga de água é que os Ministérios da Educação e da Cultura gastam os nossos dinheiros sem o mínimo de coordenação entre eles? Num momento de penúria não serão os mais jovens a esperança que devemos e temos obrigação de acarinhar?

E, ainda assim, mesmo que os pais apoiassem este projecto escolar seria possível alcançar tais objectivos? Não de forma alguma pelo motivo que Francisco José Viegas adiantou, mas que se procura saber mais profundamente se a escola, a televisão, os jornais e a vida política não desvalorizarem quem tiver interesse em saber isso (...).
Para que se perdeu tanto tempo a discutir o que seria Serviço Público no audiovisual? Também não sei! Sei é que se os audiovisuais não produzirem programas que veiculem os valores socialmente integradores que os pais e os professoras implementem, tudo ruirá. O Serviço público mínimo começa na vontade dos nossos políticos em levar por diante uma proactividade entre os meios audiovisuais do Estado, as Escolas e os Pais. Serviço Público produzir programas, documentários, jogos, música, teatro, poesia, exposições, etc. para as Escolas, e deslocarem-se lá para que os próprios alunos possam fazer parte activa do projecto.

É preciso muito dinheiro para isto, é utópico! Queiram fazer, ousem fazer, atrevam-se os nossos políticos a meter na cabeça que os nossos jovens se estão cagando para o défice, para o orçamento, para a retoma, para os submarinos, para os estádios, para a Casa Pia, para a Justiça se não lhes fizermos a justiça de que o momento deles é agora, já, não para o ano, não para 2006.

Eu sei, sou doido, não é novidade! Novidade foi-o em 1964 quando uma única pessoa, sòzinha, de Ministério em Ministério, conseguiu a pulso levar a cabo um sonho, o do Ensino Integrado, cujo nome não consta como fundadora, mas que de sua cabeça brotou. Falo da Sra. D. Gilberta Paiva, ainda viva, ainda esquecida pelo seu país, que ergueu um projecto que hoje se chama Academia de Música de Santa Cecília e que, por acaso, nestes putativos “rankings” de escolas levados a cabo pelo Ministério da Educação teima em estar em 2 lugar.

Que desabafo, desculpem o lençol, mas há coisas que valapena!

20 novembro 2003

Ide e espalhai...

Hoje é dia de viagens. Aproveito para espalhar esta boa notícia de uma edição de música portuguesa.

19 novembro 2003

CD da Orquestra Nacional do Porto - regresso

Este Ideias Soltas transcreveu mensagens de correio electrónico e comentou a ausência de edição da música e de intérpretes portugueses, aqui, aqui e aqui, a propósito do lançamento de um CD da Orquestra Nacional do Porto.

Convém por isso dizer que o Director da referida Orquestra, ontem em entrevista a Judite Lima no seu programa da Antena 2, “Jardim da Música”, questionado sobre estas críticas esclareceu que é intenção da ONP gravar compositores portugueses em futuras gravações, não tendo já nesta ocorrido pelo facto de, nas palavras de João Vaz de Carvalho, se pretender constatar que a ONP está ao nível das melhores orquestras mundiais.

Da justificação nada comento, antes prefiro enaltecer a promessa de gravar música portuguesa em futuras edições.

De salientar, ainda, que João Vaz de Carvalho colocou à disposição o endereço de correio electrónico (geral@onp.pt) da ONP para fazer chegar o referido CD às mãos de quem o pretendesse adquirir sem custos adicionais pois tem sido quase impossível encontrá-lo nas bancas.

Promiscuidade entre a Política e o Futebol

Aviz considera tal como Esquina do Rio e Cibertúlia de mau gosto apelidar de serviço público as transmissões, horas a fio, das inaugurações dos novos estádios, em especial pela RTP 1.

Junto-me ao coro, sem rebuço.

Mas permitam-me a pergunta, depois de alguma acalmia nestas contradanças da política & da bola, não será que são agora os antigos pregadores da promiscuidade entre a política e o futebol os actuais prevaricadores ao publicamente anunciarem quem deve ou não aceitar os convites para assistir às ditas inaugurações?

Entre o puritanismo e a promiscuidade lá vão eles bailando conforme a glosa!

18 novembro 2003

Metropolitana - 1.ª reportagem / entrevista à nova Directora

Gabriela Canavilhas a recentemente eleita Directora da AMEC dá-nos as primeiras impressões na última “Visão”, n.º 558, de 13 de Novembro, na pag. 144.

Não consigo, infelizmente fazer o respectivo link, limitando-me a citar e transcrever partes mais relevantes desta breve reportagem / entrevista assinada por Gabriela Lourenço, sob o título de “A senhora da orquestra”, na secção "sociedade" da referida revista.
Aqui vai.
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transcrição 1:

O estado actual da associação não aterroriza Gabriela Canavilhas, que assumiu a empreitada com o maestro Jean-Marc Burfin e o economista Luís Azevedo Coutinho. Mas sabe que, depois de anos de perda de qualidade e credibilidade, com um milhão de euros de défice e um orçamento anual muito abaixo das necessidades, a casa não estará em ordem amanhã nem na próxima semana.

transcrição 2:

Antes de mais, há que cuidar dos que ali trabalham, acredita Canavilhas. “A prioridade é regularizar as situações laborais dos funcionários e professores”, defende, explicando que a maioria das pessoas recebe o salário contra recibo verde. “Mesmo que implique um esforço financeiro maior, isso deverá ser reconhecido pelos nossos parceiros, entre eles o Ministério do Trabalho, como condição indispensável para garantir o projecto.”

Transcrição 3:

Resta, depois, para compor os alicerces da casa em desalinho, encontrar novos profissionais, já que a OML está, também, “depauperada em termos humanos”. A pianista explica porquê: “Os bons músicos foram-se retirando e procurando novos projectos; aqui tinham uma situação laboral caótica.” E já era desanimador trabalhar numa orquestra que, aos poucos, foi saindo dos circuitos nacionais e internacionais mais importantes.

Transcrição 4:

Para Canavilhas, só assim se poderá seguir em frente. “Esta instituição pode ser uma casa de abrigo para projectos originais e diversos que, em conjunto e em separado, potenciem ainda mais as suas capacidades.” Um estúdio de ópera, um centro de estudos de música antiga e outro de música contemporânea são alguns dos sonhos que gostaria de realizar.


Assim, sem comentários, vamos sabendo o que Gabriela Canavilhas pensa para o futuro da AMEC, constituída por 4 escolas e 2 orquestras, a Juvenil e a Metropolitana.

17 novembro 2003

A Arte da Cultura bem Gerir

Alves Monteiro já há 4 meses como Presidente do Conselho de Administração da Casa da Música ousou aceder, pela primeira vez, prestar declarações públicas. Luís Miguel Queirós e Sérgio Andrade conduziram a entrevista e Nelson Garrido fotografou, tendo sido este trabalho publicado no Público de ontem, nas pags. 46 e 47, podendo aceder através dos seguintes links: a, b e c.

O resultado todos poderão constatar, a serenidade, a prudência, o respeito e a atitude de decidir e fazer avançar um projecto com um espírito de missão, não curando que ele seja contra alguém. Somos convidados a em silêncio sorver, palavra por palavra, imagem a imagem, a pertinência e profundidade das questões e respostas.

Em tempos defendi, aquando da salgalhada da Metropolitana, que a gestão de empreendimentos de envergadura, mesmo os artísticos, deveriam ser entregues a profissionais da área de reconhecida competência, dando como exemplo a solução encontrada por Pedro Roseta para a Casa da Música. Não me enganei! Os links estão ali em cima para que possam ler, mas não resisto a transcrever algumas passagens que deverámos encontrar num manual (se ele existisse...) de gestão da coisa cultural. Não farei qualquer comentário, apenas pretendo humildemente aqui registar o que de muito bem neste país ainda se vai conseguindo fazer.

Vamos a isto.

Citação 1:

TÍTULO: Alves Monteiro manifesta-se contra as especulações feitas a partir de relatórios preliminares das auditorias em curso à anterior gestão da Casa da Música.

PÚBLICO: Baseando-se num relatório intercalar da empresa Ernst & Young, à qual encomendou uma auditoria, Rui Amaral acusou a administração presidida por Teresa Lago de ter cometido diversas irregularidades. O que pôde apurar confirma este cenário? Quando estará de posse do relatório final desta auditoria, bem como da que está a ser feita pelo Tribunal de Contas?

ALVES MONTEIRO: Não há ainda relatórios definitivos. O Tribunal de Contas não produziu ainda qualquer documento, mesmo que preliminar, e da Ernst & Young existem dois relatórios intercalares, embora o último seja já bastante avançado em termos conclusivos. Acredito que, nos próximos meses, possa já estar na posse de ambos os relatórios finais, o que permitirá fazer uma mais detalhada apreciação das conclusões, que serão, sempre, do domínio público. Tendo em conta que o objecto e o contexto das duas auditorias são os mesmos, o mais sensato será esperar pelas conclusões do Tribunal de Contas.

PÚBLICO: A informação prestada nos relatórios intercalares da Ernst & Young confirma as acusações de Rui Amaral?

ALVES MONTEIRO: Preferia não comentar isso. Os resultados de auditorias devem ser divulgados no momento próprio, e quando os trabalhos estão fechados. Não sou nada adepto de especular em torno de relatórios intercalares.

Citação 2:

PÚBLICO - O que levou um gestor de instituições financeiras, com um longo percurso nas bolsas, a aceitar o desafio de administrar uma Casa da Música?

MANUEL ALVES MONTEIRO - Devo confessar que, após a cessação de funções como presidente da Bolsa portuguesa, em Março deste ano, estava longe de pensar que viria a ter, poucos meses volvidos, uma ligação profissional a um projecto com as características da Casa da Música, uma área distinta, mas onde, afinal, idênticos princípios de rigor, de profissionalismo, de espírito de missão e, se quiser, de serviço público devem estar presentes. Aliás, por ser assim, sinto pouco a mudança e a diferença em relação a outros projectos por onde andei, ou que presentemente partilho com a gestão da Casa da Música. Sem dúvida que este projecto é muito aliciante, com uma ambição que o torna único no panorama cultural português, até pela expectativa que o rodeia e pela evidente complexidade que encerra.

PÚBLICO: Se esta administração herdou o mandato da que antes foi presidida por Rui Amaral, a sua missão resume-se a assegurar a conclusão da obra. Encara este lugar como uma tarefa a prazo certo, ou, se os accionistas assim o entenderem, admite manter-se no cargo, já com a Casa da Música a funcionar em pleno?

ALVES MONTEIRO: A herança que menciona não se resume a concluir uma obra de construção civil, por mais grandiosa que esta seja. O projecto que está cometido a este Conselho de Administração é bem mais do que isso. Desde logo, trata-se de criar as bases e os princípios centrais de uma componente editorial e de programação que se quer ambiciosa e que é, afinal, o coração substantivo do projecto. De seguida, pretende-se criar uma estrutura organizacional que suporte o projecto e o desenvolva, assente numa equipa de profissionais de elevada competência e espírito de missão. Pretende-se ainda que seja presente ao poder político uma proposta de modelo futuro de gestão do projecto, com uma clara ideia sobre a forma jurídica de organização, de governação e, naturalmente, de financiamento. Acompanhar as auditorias que vêm correndo na Casa da Música é também uma missão da administração. Tudo isto, em paralelo com a gestão de um conjunto vasto de intervenções no contexto da Porto 2001 - Capital da Cultura: obras de requalificação urbana e intervenções várias em equipamentos culturais. Quanto à questão que me colocam, o meu futuro imediato neste projecto está dependente da confiança que os accionistas tenham em mim, a cada momento. Sobre o futuro mais distante, não me quero pronunciar, até porque entendo que qualquer resposta poderá constituir um exercício inoportuno de especulação, fragilizador do projecto ou da minha missão.

citação 3:

PÚBLICO: Quando fala em componente editorial, está a referir-se, por exemplo, a edições discográficas?


ALVES MONTEIRO: Um dos caminhos que a Casa da Música pode seguir tem a ver com a edição discográfica, mas não é nesse sentido que uso a expressão. Qualquer manifestação cultural consistente deve sustentar-se num princípio editorial. A Casa da Música deverá acolher um espectro extremamente alargado de tipos de música, desde as expressões mais populares, incluindo as bandas filarmónicas, até expressões mais eruditas. O jazz, nas suas diversas dimensões, terá uma expressão muito forte, mas também, por exemplo, o pop-rock, o fado ou a cibermúsica. Mais do que popularidade, pretende-se que haja qualidade. Muitas manifestações culturais começam por ser marginais, e por vezes vivem muito tempo na marginalidade, mas não é por isso que não devem ser acarinhadas.

Citação 4:

PÚBLICO: A comissão parlamentar de Ciência e Cultura vai ouvi-lo, já na terça-feira, recebendo, depois, os anteriores presidentes da administração da Casa da Música. Não receia que estas audições acabem por resultar numa apropriação do projecto para efeitos de disputa partidária?

ALVES MONTEIRO: Os deputados têm o direito de querer estar informados sobre matérias que considerem relevantes. E todo o historial da Casa da Música, com as correcções nas datas de finalização da obra e os sucessivos valores alocados ao investimento, suscitou e ainda suscita preocupação. É natural que os deputados queiram perceber qual é hoje a situação, e também ficar com uma ideia de como se chegou aqui. E julgo que poderão ter interesse em conhecer quem está à frente da instituição. Agora, se me pergunta se temo que possa haver uma apropriação política da Casa da Música, é evidente que temo. Acharia preferível que um projecto com estas características se mantivesse distante do debate político-partidário, e creio que os próprios partidos reconhecerão isso, mas a realidade é o que é e temos de conviver com ela. O meu objectivo é trazer serenidade para o projecto, o que implica fornecer informação tão exaustiva quanto possível, mas, ao mesmo tempo, mostrar que estamos aqui com sentido de responsabilidade e espírito de rigor.

Citação 5:

PÚBLICO: Pedro Burmester é consultor da administração, reportando directamente ao presidente. Existe algum contrato que garanta que ele exercerá efectivamente a função de direcção artística do projecto, ou isso depende apenas da solidez da relação de confiança que mantiver com o presidente?

ALVES MONTEIRO: O trabalho que tenho desenvolvido com o dr. Pedro Burmester tem incidido na definição do modelo de programação para a abertura da Casa da Música e para a primeira temporada, bem como na definição das acções e eventos que deverão ser desenvolvidos. É evidente que este trabalho tem implícita uma vasta reflexão sobre os princípios editoriais futuros da Casa da Música, criando as bases programáticas do que deverá ser este equipamento. O dr. Pedro Burmester mantém o estatuto de consultor do presidente para a programação, tal como anunciei publicamente aquando da minha nomeação, e assim temos trabalhado. A organização futura da Casa da Música está ainda em fase de definição, e somente a essa luz será possível enquadrar a actuação futura do dr. Pedro Burmester, assim ele queira manter-se ligado a este projecto, como é minha convicção e intenção.

Citação 6:

PÚBLICO: A construção da futura sede do BPN nas traseiras da Casa da Música é um dado adquirido, ou acredita que possa ainda negociar-se uma solução alternativa?

ALVES MONTEIRO: Se tiver em conta a abertura que desde sempre senti da parte do presidente da Câmara do Porto e dos promotores do empreendimento, não estranharia que este "dossier" não esteja definitivamente encerrado e possa, ainda, sofrer mais evoluções positivas para a Casa da Música. Faz todo o sentido conceber que a zona a construir possa beneficiar de uma edificação que acumule a virtude de delimitar a área e de preservar dos olhares um espaço algo degradado e que em nada dignifica a grandiosidade do projecto do arquitecto Koolhaas. O que é necessário é que esta edificação possa ter a volumetria necessária e suficiente para garantir estes objectivos. O exercício de conceber uma volumetria obediente aos interesses da Casa da Música não foi feito logo após a decisão da sua implantação, o que poderá ditar, agora, resultados que colidam com os legítimos direitos adquiridos dos promotores. Daí que a composição final destes interesses seja difícil. Pena é que se tenha permitido que o terreno em questão tenha caído na esfera de interesses privados, legítimos e totalmente respeitáveis, sem que tenha sido feito o exercício que referi. Por certo que teria desvalorizado o valor do encaixe da venda que a Câmara do Porto no passado realizou; porém, o projecto pedia essa medida de boa gestão, tanto mais que, segundo julgo saber, a venda ocorreu em fase bem posterior à decisão de implantação da Casa da Música no local actual. Afinal, um acto de pequena visão a embrulhar um projecto grande. Queiramos que as gerações futuras perdoem as fraquezas de alguns que as precederam.

Citação 7:

PÚBLICO: Quando fala de crianças, está a sublinhar que é preciso investir no Serviço Educativo da Casa da Música?

ALVES MONTEIRO: Sim, mas as crianças, e a juventude em geral, também deverão ter um grande espaço espelhado na própria programação, que atenda aos seus diversos gostos, mesmo os mais vanguardistas e radicais.

Citação 8:

PÚBLICO: A programação da Casa da Música tem sido várias vezes acusada de elitismo. Parece-lhe uma crítica pertinente?

ALVES MONTEIRO: O que vem sendo feito está longe de ser exemplificativo daquilo que deverá ser a futura programação. Não se pode esquecer que não temos ainda a Casa da Música a funcionar. O que fazemos hoje é investir naquilo que irá ser um conjunto de agrupamentos residentes, que merecem e exigem um trabalho prévio, para garantir que amanhã terão um bom desempenho. Mas o princípio que, no futuro, deverá orientar a programação é o de um grande eclectismo, ao nível das manifestações e, sobretudo, do público.

Fim de citações.

Com humilde serenidade reflictemos.

Ele há coisas assim...!

Uma estória para ler neste silêncio.
Sem comentários.

14 novembro 2003

O Acervo Fonográfico da Antena 2 - Uma Preocupação

Infelizmente não me tem sido possível responder em tempo a todos os emails que tenho recebido sobre a generalizada preocupação sobre o estado do mais rico acervo fonográfico português, o da Antena 2. Chamo a atenção de todos os interessados que para além deste Ideias Soltas poderão sempre espreitar no Fórum de Música Clássica, o único que se constitui para dar guarida aos defraudados pelo encerramento do Fórum da A2.

Um dos que recebi, de B. O., é particularmente identificativo da peocupação sobre a falta de divulgação dos compositores portugueses de uma forma pausada, sensata, nos incita a uma urgente e serena reflexão. Inibo-me assim a qualquer comentário.
Aqui vai:

Caro Carlos Alves,

Agrada-me muito que no seu blogue dê um espaço à questão da gravação de música portuguesa do século XX; a do século XXI não me preocupa tanto. Acho que os jovens compositores vão sendo divulgados.

Os ingleses divulgam Hamilton Harty, Bax,Arnold e Parry que não têm a estatura de um Britten. Se em Porugal se edita e bem Carlos Oliveira,Namora,Cardoso Pires ou Urbano Tavares porque não se faz o mesmo com os nossos compositores A.Fragoso,Lacerda,F. Branco,C.Carneiro,AJ Fernandes e L Graça?
Concedamos Joly e F.de Freitas ou até Vitorino de Almeida. Claro que os nossos não têm o peso de Stravinsky ou Bartok ou Prokofiev mas é o que temos.

Lá vou colecionando para uso particular as gravações dos Arquivos da RDP e que a Alexandra Almeida vai dando no Que quer ouvir.
Assim, depois de um belo recital de Fernando Serafim com Lopes Graça ao piano (canções de A.Nobre e C.Pessanha) aguardo a Sonata para cello e piano de A J Fernandes pelas irmãs Sá e Costa, depois de uma obra de Freitas Branco pouco conhecida a "Cena Lírica" por Maria José Falcão e Silva Pereira a dirigir a Orquestra da Emissora.

12 novembro 2003

Antena 2 da RDP

Após um primeiro calafrio, aquando da hipotética “refundação” dos audiovisuais do Estado, os melómanos da música clássica e da música portuguesa aguardaram com perseverança as alterações a implementar na Rádio Difusão Portuguesa (RDP), em especial, na sua Antena 2.
O seu excelente fórum onde muito e muito bem se escreveu sobre música e artes fechou-se, diziam para remodelação gráfica, prometendo o seu reaparecimento para 1 de Outubro pretérito.
Para além de tal não ter acontecido, assistimos desde aquele dia a mudanças estéticas profundas, repare-se, não de conteúdos mas sim de atitude, jovial pretenderão dizer, que agride sumariamente o seu auditório fiel sob o pretexto de captar um outro mais jovem, conforme poderão constatar pelas palavras do seu Director.
Ora, ou muito me engano, ou para além de nem mais uma alma captar corre o sério risco de perder a fidelidade dos constantes.
Este assunto é tanto mais actual quanto hoje nos vemos tropeçar em pungentes oligarquias nos meios audiovisuais portugueses, conforme já denunciaram, por exemplo, Adufe e Textos de Contracapa.
É ainda de salientar que a Antena 2 é detentora do maior e mais rico espólio fonográfico da vida musical portuguesa dos últimos 50 anos, não sabendo nós o que estará a ser, se é que está a ser, feito para a sua preservação, manutenção catalogação e divulgação.
Chamo, assim, a atenção para que o aqui e aqui foi escrito neste fórum alternativo sobre a tentativa frustada de criação de um Associação de Amigos da RDP para que se possa ver a preocupação existente para as bandas da Antena 2, a única estação temática do Estado sobre música clássica e cultura.

Radu Lupu

Com muita pena minha não me foi possível deslocar a Lisboa para ver Radu Lupu. A minha consolação foi o que a propósito o Crítico escreveu. Sem peneiras nem maneirismos de quam acha que sabe, antes as sensações que viveu. Vale a pena!

11 novembro 2003

Divulgação dos Compositores Portugueses - regresso

Ainda sobre a mensagem que recebi por correio electrónico de B. O. , que aqui transcrevi e comentei, transcrevo agora uma outra sobre o mesmo assunto remetida por Abel Roldão Santos.

que misterio há para as orquestras portuguesas quando gravam, so gravam o
mais que gravado ?
será porque há um ou dois maestros portugueses que insistem nisso .. caso
a.cassuto para a naxos, e como este maestro é nacional e chato (como todos
os maestros..vide o ensaio de orquestra do Fellini)vamos então fazer outra
coisa assim..no estilo filarmonica de Berlim.
no entanto senhores gestores eu e + uns tantos até pagavamos para termos
nas nossas colecções um cd zito com a "patria" do vianna da mota etc
porque não consideram serviço publico por cá fora em cd as gravações da
velha orquestra da EN com o Frederico de Freitas a reger as suas obras ?
para controlo de tal "hitotetico" negocio quantos cd se venderam com a
"callas"?
(...)
aliás a rdp podia tb" vender" os programas de divulgação para uso escolar ou equivalente...


Regressarei sempre a assunto, sempre que for a propósito, pois se atentarmos no que não tem sido feito pelo riquíssimo acervo da Antena 2, da RDP, ex-Emissora Nacional, e pelo Museu da Música que teima em não mostrar todas as colecções privadas que lhe foram doadas, a história da música portuguesa estará sempre amputada e, mais grave, deturpada e usurpada.

10 novembro 2003

Actualização de Blogues

Uma actualização de links para os Blogues. Impunha-se. Os critérios iniciais mantêm-se, a saber, constam aqueles que diariamente espreito. Não que não tente ver o que vai por outras bandas, mas um critério impõe-se-me, sendo este havendo falta de melhor.
Acrescentei alguns, A forma do Jazz a Vir, Alentejanando, Avatares de um Desejo, Chá de Menta, Jazz no País do Improviso, e Salada de Letras com Maionese.
Um outro retirei, não pelo que escreve, antes pelo que disse. Aqui não nos conhecemos, vamo-nos conhecendo, sendo que o desencanto é a constatação de desonestidade intelectual.

09 novembro 2003

De Certezas descontextualizadas ao Contexto de um Sonho

A prazo a Democracia não será compatível com liberdade
George W. Bush em Telejornal, RTP, 7/XI/2003

Uma das coisas de que estou mais convencido em relação às emoções e aos sentimentos é que a resposta à violência com violência só cria mais violência.
(...)
A possibilidade de resolver um ataque de uma forma violenta tem que existir, não pode é existir por si.

António Damásio, em Visão n.º 557, pag.122, 6/XI/2003

Mais de cem mil pessoas juntaram-se em Telavive no sábado, 1, para homenagear Yizhak Rabin (...) e para protestar contra a política do Governo israelita face aos palestinianos.
Visão, n.º557, pag. 94, 6/XI/2003

As minorias activas e inovadoras, que são as que não têm vantagem, de estatuto ou de reconhecimento social, tudo o que fazem é resistir e agir. Não reagem, agem. São essas minorias que me interessam.
Serge Moscovici, em Visão n.º 557, pag. 92, 6/XI/2003



(...) a prática da aceitação e da tolerância são um antídoto para o medo e a tristeza, porque conferem força interior.
Dadi Janki, em Visão n.º 557, pag. 16, 6/XI/2003



(...) remontando ao acto mesmo através do qual o homem “conhece” – anterior a toda a objectivação dura desse conhecimento – a que se chama Ciência, mas somos nós que a baptizamos – não há, vendo bem, razão, mais do que história, e contingente, para a Querela que por causa de um dado conhecimento – mesmo o mais incontestável como o da Ciência – nós travamos connosco mesmo enquanto sujeito a de outra forma de conhecimento relevando de outra evidência que a meramente intelectual.
Eduardo Lourenço, Ensaio, em Visão n.º 557, pag.193, 6/XI/2003

Praticamente tudo aquilo que se possa pensar em matéria mental tem uma ligação com o corpo. O corpo é o espaço em que se pode pensar.
António Damásio, em Visão n.º 557, Ag. 122, 6/XI/2003



A maioria reconhece a ligação corpo-mente.(...) Não é a dificuldade que gera o stresse, mas sim a atitude e a resposta face ao que acontece.
Dadi Janki, em Visão n.º 557, pag. 16, 6/XI/2003

Acordei, em silêncio, “Pelleas und Melisande” de Schoenberg, pela Sinfónica de Chicago dirigida por Boulez, acabara.
Tinha já saudades de um Domingo assim, de mansamente passar pelas brasas das minhas interrogações.

07 novembro 2003

Porque 100nada te purgas, Catarina?

Não sinto pena nem saudade, não peço que voltes nem que permaneças, não quero que sejas sem Ser, só quero que saibas que a invasão que da tua privacidade sentes é fruto da recatada nudez que com segurança te expuseste, dando-me não um de ti aos pedaços mas o pleno, o Amor que para os outros emanas.

Em 100nada encontrei sempre seiva, não o vazio que alguns te arremessaram, seiva feita de confissões ficcionadas, ou não, mas certas dos trilhos, não buscando o vão perdão redenctor, assumindo sim o vulgo do pecado que nos encerra, dilacera, comove e rejubila.

Um grande amigo, este, enviou uma prenda à minha família neste último “dia de todos os Santos” que gostaria de partilhar contigo, que o lêsses, o sentisses e o guardasses.

É-me hoje muito difícil encontrar o fio que separa o sagrado do profano, não do secular e do laico, este é simples, é racional, antes da sensibilidade pessoal e cultural de que cada um de nós é enfermo, a nossa identidade, que sagra e profana em si sem necessitar ou mesmo alheio ao sacralmente correcto e institucionalizado.
Foi assim que segui atentamente as diferenças entre a Letra Blog, Aviz e o Crítico em relação ao Panteão, queria ter opinião e não consegui alcançá-la!
Os domínios do sagrado e do profano emanciparam-se dos cânones para em nós se sentirem e para em cada um se substanciar.

Bem hajas Catarina pelo que deste e pelo que conseguirás vir a dar!

Transcrevo o texto porque gosto muito dele embora possa ser visto aqui.


Todos os Santos


1. A santidade é o mais forte de todos os sentimentos verdadeiros por ser uma alegria que rejubila com a alegria que se aprofunda, para além de qualquer contrariedade ou perturbação. Quem deseja ainda ardentemente vestir-se de sanctitas? Quem acredita na sensualidade do invisível?

2. Falo de um afecto, não de uma peanha, falo da “alegria que nasce em nós da alegria que o outro sente” (Lllansol). Falo da festa misturada de luto e de alegria, de dor e de felicidade como tudo o que é eterno. Falo da alegria da linguagem que os textos de hoje nos doam, por mais enigmáticos e paradoxais nos pareçam. "Felizes os que sofrem": a co-pertença do sofrimento à alegria é paradoxal. A famosa distinção entre tristeza e alegria é bem mais poderosa do que a que vingou: opressão ou liberdade. A alegria torna-nos sempre livres, enquanto a liberdade nos pode tornar tristes ou não.

3. Esta é a festa de todos os santos e de todos os fiéis defuntos que morreram no amor eterno de Deus. Esta é a festa de todos os santos anónimos que continuam a erguer o mundo: quem não encontrou na vida o amor, a humildade, a bondade e a fidelidade que os santos irradiam? Nem sequer na mãe a quem chamamos “santa”, sempre calada e abnegada, ou no pai, sempre tão firme e doce?

4. A santidade é o impensado do nosso tempo, como a morte ou a graça. Apesar dos inúmeros processos de canonizações a correr. "A santidade é uma diferença. Emerge algures, na espessura das vidas. Será perceptível ou não. Exemplificável ou não. Depende da organização e do seu pólo agregador. É este que mede, avalia, aprecia e tipifica a diferença" (Augusto Joaquim). Esta vida partiu para as extremas do humano. Vai Ter de produzir uma diferença real. Os antigos diziam que havia um cheiro inconfundível. A santidade difundia um odor forte, sem ser inebriante, nítido sem ser cortante, persistente sem ser enjoativo. Era o seu modo de estabelecer a diferença real. Não seremos capazes de estabelecer uma diferença real entre a intrujice e a bondade, a hipocrisia e o sentimento verdadeiro?

5. A "santidade" secularizou-se, como tudo o resto. Conserva a virtude de agir por substituição: os heróis do nosso tempo são estrelas do cinema na intimidade, desportos radicais, modelos anoréxicos e lisos, o ouro e o brilho de ser conhecido, visto, publicitado. Essa é a santidade do ídolo, do atleta ou da estrela a que sacrificam as multidões. A graça que discernimos no rosto do santo é a graça do ícone litúrgico, eclesial, de uma realização do mundo – o que chamamos o Reino de Deus. Porque a beleza do santo não lhe pertence. A luz que o ícone lhe reconhece vem-lhe de um outro. Pulchritudo boni ou pulchritudo Dei in homines diffusa splendor sanctitatis.

6. Que diz o Cordeiro, de pé, investido de poder, cercado de uma corte de eleitos? Que diz este herói marcado pelo combate de várias cruzes? Diz ele que a testemunha vem marcada pela paixão de um combate, que arriscou a vida em função do horizonte das Bem-aventuranças, que resistiu ao amolecimento de que padecem todas as formas de vida. Que mais diz o Cordeiro? Que as nossas verdades, circunstanciais, são apenas as verdades dos nossos interesses, da nossa cegueira, das nossas expectativas e tendências. Que o Livro não é o nosso espelho, mas a nossa confrontação e desmascaramento. Que a marca da imolação subsiste como aparência, como traço de passagem da vida à morte.

7. Que mais diz o Cordeiro? Que a pátria da criação vem do futuro, que o futuro é uma visão; aprender a ver obriga a saber sonhar. Que a incerteza provoca também a excitação feliz da multiplicidade dos possíveis. Que o sonho figura o tempo da liberdade. Que mais diz o Cordeiro? Que o Deus do AT. e do N.T. introduziu na História a dinâmica do "Novum", a impaciência dos limites e o combate sempre recomeçado contra a paralisia das ordens estáveis do eterno retorno do mesmo. Que o mundo das Bem-aventuranças não é o mundo maravilhoso e liso do irreal que consola. Que a utopia cristã se chama esperança, urgência de conversão e não futurologia. Que mais diz o Cordeiro? Que o nosso estatuto é o de filhos e que só Deus é santo.

8. Do monte dos macarismos soam palavras que só os loucos dizem entre si, irrisórias, duras para quem leva uma vida dilacerada: "Bem-aventurados os pobres, os que choram, os que têm fome e sede". Quem estranhará a acusação antiga de que o cristianismo conduz à efabulação do além, ao Céu vazio que é o céu dos pardais? Porque há a realidade crua. Há a morte à porta contra a qual nada se pode. Há uma revolução informática em curso que vai acelerar e rever conceitos como o do emprego e trabalho. São as pequenas e médias empresas que geram empregos. "Quanto aos excluídos, vou ser muito directo: estão destinados a morrer" (José Tribolet).

9. A Vida é invisível, invisível no sentido em que de facto - a dor, o inebriamento - inevitavelmente se frui, fora do mundo, independentemente de qualquer ver (M. Henry). Não se trata, pois, de uma oposição entre o visível e o invisível ou entre duas formas de realidade. Para o santo de Deus, Jesus, o Samaritano não estava imerso nos sonhos diáfanos da "bela alma" quando se debruçou sobre o homem coberto de sangue para ao socorrer e cuidar levando-o para um albergue. Como podem as sete obras de misericórdia corporais afastar-nos do mundo? Como não construir hospitais em tempos de barbárie? Como não cuidar dos feridos em tempo de guerra? Tanta mão invisível que dá comer a essa multidão de mendigos que dorme ao relento sem que o comum do cidadão se incomode. Não são esses os santos dos nossos dias, invisíveis, como o amor é invisível?

10. As Bem-aventuranças não instituem a crítica sábia das nossas certezas ou felicidades. Elas circunscrevem o outro lugar que o nosso coração habita. A bem-aventurança se não é deste mundo, deve necessariamente habitar neste mundo. É em nós que a Cruz faz a sua morada. Os que choram, continuarão a chorar: Deus é alguém que se faz próximo daquele que chora. Deus presente, quer dizer retirado, não na "figura da morte", mas no rosto dos mortos - dos exterminados. Deus não tem medo do pobre porque é pobre. Deus não se esconde.

11. Os santos lembram-nos, não o que somos, mas, drasticamente, o que deveríamos ser. Eles propõem uma imagem familiar do sagrado. A sua presença na cidade ou nas extremas é poder de contestação e de contradição: política, social e onto-antropológica: uma "outra" forma, específica, de ser homem e mulher. O santo e o pecador são homens e o primeiro índice de uma humanidade em caminho para a sua realização é a certeza aguda duma solidariedade com o pecado de todo o homem. O santo e eu somos homens; ele dá testemunho da humanitas communis e da humanitas perfecta. Imitadores de Deus, que eles nos transmitam aquilo que os tornou tão próximos dele e de nós que nos reconhecemos neles, nossos irmãos comuns. A luz tabórica que brilha no rosto do santo vem do seu futuro e do nosso. Eles são exemplo da melhor humanidade do passado e projecção da melhor humanidade futura. Que a sua luz ilumine também o nosso rosto, agora do Monte das Bem-aventuranças.



Beijinho, Catarina e até breve.

06 novembro 2003

De Regresso à Imigração

A propósito deste Adufe e do que aqui escrevi.

A questão parece querer manter-se nestes termos – quem defende a abertura à imigração é anti-patrióta, quem defende a imigração 0 é racista!

Peguemos num assunto bem actual, a falta de médicos. Não vou sequer deambular pela atribuição de responsabilidades, o Presidente da República falou sobre isso ontem, antes por uma lógica que defendi. Tentando refundar!

A quem defende que a abertura das nossas fronteiras só serve para ter crimonosos entre nós, não tenho comentário algum que me ocorra. Certo é, no entanto, que muita gente há que não tem culpa de ter nascido num local sem recursos sendo sua obrigação moral e ética procurar sustento para a sua família. O nosso caso recente de emigração era exemplo do que acabo de dizer.
Desta forma é desumano que os países que subscreveram a Declaração dos Direitos Humanos, nomeadamente os da Europa ocidental, fechem as suas portas perante as extremas dificuldades em que vivem muitos nossos semelhantes!

Princípio, sim, a questão de moral, de ética. Mas, se nós não consiguimos melhorar as condições de vida destes imigrados, para quê deixá-los vir?

É aqui que introduzo o problema fulcral da lamentável ausência de uma política de imigração! Porque continua a nossa Ordem dos Médicos a não reconhecer os seus colegas formados nos países de leste? As nossas orquestras estão cheias de diplomados nesses países e, em abono da verdade, promoveram significativamente a elevação da qualidade das mesmas. Não poderiam as nossas embaixadas e consulados promover a imigração e integração junto daqueles que melhor respondam às nossas necessidades?

Formar um obstectra ou um pediatra leva mais de 10 anos. Vamos ficar sem médicos especialistas até então por uma birra da Ordem dos Médicos que é a principal responsável pela situação?

Haja bom senso, haja a coragem de estabelecer uma política de imigração adequada às nossas necessidades, por um lado e, por outro, à nossa capacidade de integração social.
Uma política de imigração 0 é equivalente a imigração clandestina; a total abertura é sinónimo de irresponsabilidade.

05 novembro 2003

E agora, que vou pr'àqui escrever?

Este Ideias Soltas abriu-se sem disso se aperceber e, template arrumado, ficou sem saber para que serviria! Serviu-se da sua preocupação pela AMEC para a AMEC servir e de Ideias Soltas só da AMEC brotou!
E agora, porra, que vou fazer disto?
Confesso que não sei, tentarei ir como fui, ao sabor, na corrente das minhas preocupações, de louco seguramente, pois não as vejo nos reputados órgãos de comunicação social!
Serei marginal ou de mim quererão fazê-lo? Não sei, mas qualquer das hipóteses me agrada, seduz-me a preocupação daqueles que ainda fazem por amor, ou fazem porque fazem, acreditando no que vão fazendo, por alegria que é a maior manifestação de liberdade que conheço. Cito um grande amigo, José Augusto Mourão, “A alegria torna-nos sempre livres, enquanto a liberdade nos pode tornar tristes ou não.”

Então, um destes dias recebi um email de B. O., devidamente identificado, que manifesta uma profunda preocupação, não de agora antes de longa data, a da ausência de divulgação da música dos nossos compositores. Aqui vai, seguindo-se um breve comentário:


Caro Carlos Alves,


Porque se trata de um assunto relacionado com a música aqui estou para chamar a atenção de uma notícia que li hoje no JL.
A Orquestra Nacional do Porto vai lançar dois discos por si interpretados: de Tchaikovski a Sinfonia nº 4 e Romeu e Julieta; de Brahms o Concerto de Piano nº 1 e as Variações Haydn, sendo solista no Concerto o pianista António Rosado.
Obras arqui-tocadas!
Como é possível gastar-se dinheiro nisto? Serão discos para oferecer no Natal?
O mercado está inundado destas obras. Só da Sinfonia nº 4 há pelo menos dezenas de versões, de difícil escolha, qual delas a melhor: Sanderling, Karajan, Mravinski, Svetlanov, Barbirolli, Toscanini, Bernrstein, Monteux, Markevitch, etc., etc., e pelas melhores orquestras do mundo.
Do Concerto do Brahms há mais de 20 versões e pelos melhores pianistas do mundo! Agrada-me que Rosado seja mais um mas preferia que gravasse música portuguesa.
O mesmo para a Orquestra Nacional do Porto.
Que eu conheça, há meia-dúzia de discos com música portuguesa por orquestras portuguesas. Há mais discos com música de orquestra mas são orquestras húngaras.
Como é possível que não sejam divulgadas as obras de autores portugueses?
Onde está a música sinfónica ou concertante de Freitas Branco,Cláudio Carneiro, Lopes Graça, Armando José Fernandes, isto para referir os mais antigos?
Felizmente que a Naxos está a editar Joly, a Hyperion editou Viana da Mota, a Numérica compositores jovens e a La mà de Guido, de Carrapatoso.
Quem são os responsáveis que mandam gravar Tchaikovski e Brahms em 2003 pela Orquestra Nacional Porto?
É preciso denunciá- los na praça pública.


Fiquei indignado com a notícia. Desculpe o desabafo mas ocorreu-me que seria interessante abordar a questão da música portuguesa no seu blog.

A preocupação de B. O. é justíssima. Com efeito, os compositores portugueses têm mais obra orquestral gravada no estrangeiro que entre nós o que é no mínimo caricato! Ainda ontem Jorge Sampaio dizia em terras castelhanas que era estranho nenhuma empresa portuguesa ter almejado até ao momento ganhar um concurso em Espanha. Dizia e dizia bem, é que neste apregoado e sacralizado mundo neo-liberal exporta-se o liberalismo enquanto no recato caseiro se protegem contra a sua invasão através dos mecanismos à disposição do Estado. E nesta matéria todos se entendem, da direita à esquerda, menos entre nós, os arautos do “non sense”, que não cuidamos atempadamentte de defender os nossos interesses e parecemos preocupados em defender, por inusitado princípio ético e moral, a “finantia” internacional.

Mas voltemos ao pomo.

Por preposições (sempre me pareceu um dos métodos mais adequados):
1 – Terá a Orquestra Nacional do Porto obrigação de gravar música de compositores portugueses?
2 – Terá António Rosado obrigação de gravar música portuguesa?

Certamente que não. A liberdade de um músico escolher o que interpreta é inalienável. Em tempos, no interrompido Fórum da Antena 2, discutiu-se se Maria João Pires teria ou não obrigação de gravar compositores portugueses. Como é evidente as opiniões dividiram-se, cada um guardando a sua, mas para mim é líquido que se a um intérprete for negada a liberdade de escolha está definitivamente hipotecada a qualidade da sua manifestação artística por força de não se expressar onde entende que terá algo para dizer.

Quero com isto dizer que não estou de acordo com B. O.?
De forma alguma! Vejamos a preposição seguinte:

3 – Quando uma intervenção artística é financiada ou apoiada por dinheiros públicos será lícito que se exija que se interpretem autores portugueses?

Não, não tem sido, mas acho que sim! De facto não deve ser imposto ao artista um programa, mas deve ser obrigação das entidades públicas que financiam ou apoiam exigir que tal aconteça, no caso concreto desde duplo CD, incluir, vá lá, ao menos, uma obra portuguesa de folgo.
Não sei se houve ou não qualquer financiamento para a produção deste CD da Orquestra Nacional do Porto, mas a própria instituição é substancialmente financiada pelo Estado, sendo que, se a António Rosado não deveremos exigir que só interprete obras de compositores portugueses (aliás já o fez em gravações anteriores), já me parece de muito mau gosto que a ONP a tal não se obrigue, nem pelos financiadores estatais seja obrigada.
Quem não estiver de acordo bata-me primeiro para eu perceber o porquê.

Fumo Branco, sim

Com alívio confirma-se a eleição por maioria de uma nova direcção para a AMEC, encabeçada pela pianista Gabriela Canavilhas, aguardando-se que seja reposta a legalidade por parte dos fundadores e o bom senso por parte dos músicos, professores e alunos.
É tempo, agora, de deixar trabalhar com serenidade os eleitos e desejar que consigam que a AMEC devolva a si própria a imagem que conquistou, perdeu e se pretende que readquira.
Não gostaria de deixar de linkar ao Crítico por mais um assertivo texto que dedicou à Metrpolitana onde, de forma sucinta, conseguiu transmitir muito do que vai na alma dos melómanos.

04 novembro 2003

AMEC - Fumo Branco?

Ao que parece, ao cabo de quase 8 horas, vislumbra-se fumo branco!
Não conheço em pormenor as decisões tomadas, mas é seguro que a AMEC tem uma nova direcção, cujo conteúdo programático ainda desconheço, mas que certamente viabilizará a retoma do normal funcionamento da associação, desde logo, através da reposição da legalidade (pôr fim ao congelamento dos financiamentos devidos por parte da Câmara de Lisboa), de modo a que professores e músicos possam receber os seus honorários e, assim, continuarem com serenidade a fazer o que de muito bem têm feito.
Ele há coisas que só o bom senso consegue resolver...

02 novembro 2003

Metropolitana - Dia "D"

4 de Novembro – “The Day After” da AMEC

Parece, finalmente, tudo se conjugar para que o folhetim Amec conheça o seu epílogo na próxima 3ª feira. Por um lado, as Câmaras associadas não quebraram o acordo de considerar que Miguel Graça Moura não tem condições para prosseguir e, por outro, a posição publicada pelo maestro, através de carta aberta, neste Expresso último.

Por lapso nunca anteriormente aqui “linkei” AMEC, “Associação Música – Educação e Cultura” (corrigindo agora o erro cometido), conhecida pela marca Metropolitana. Como poderão constatar e como muito bem elucidou Adufe, esta associação sem fins lucrativos é composta por 4 escolas e 2 orquestras – “Academia Metropolitana de Amadores”, Escola Metropolitana” (infantil e juvenil), “Conservatório Metropolitano” e “Academia Nacional Superior de Música”, a “Orquestra Académica” e a “Orquestra Metropolitana”

Os contornos rocambolescos de que este processo se revestiu já eu aqui transmiti, sendo com especial apreço que ouvi ontem, na Antena 2, João Maria de Freitas Branco dizendo, com muito ponderação e assertividade, que o projecto AMEC é uma obra ímpar no que ao ensino da música em Portugal diz respeito, pedindo que a saída inevitável do maestro não se traduza numa alteração ou desvirtuação dos fundamentos da obra.
É certo que não é o momento adequado para se prestar uma homenagem a Miguel Graça Moura, mas não se duvide que foi graças à sua tenacidade que a AMEC nasceu e à sombra da sua gestão se ergueu, ficando para a história o seu nome inscrito de forma indelével.
Salientava, ainda e bem, João Maria de Freitas Branco, ser a AMEC pioneira nos estudos superiores de Direcção de Orquestra e a forma inteligente como as escolas se encontram inter-relacionadas com o objectivo de captar e formar jovens músicos para as nossas orquestras, em especial, nas cordas, sector deficitário, desde sempre entre nós.
Para se ter uma ideia, desde 1995, ano em que saíram os seus primeiros formandos, bacharéis e, mais tarde, licenciados, da Academia Nacional Superior de Orquestra saíram 80 profissionais, 17 violinistas, 7 violetistas, 13 violoncelistas, 4 contrabaixistas, 6 maestros, 3 flautistas, 8 clarinetistas, 5 trompetistas, 3 percussionistas, 5 tubistas, 4 trombonistas, 2 fagotistas, 2 oboeístas e um trompista, sendo que destes 80, 40 são profissionais de música em Portugal e 11 conseguiram entrar em várias instituições estrangeiras de prestígio onde prosseguem o seu aperfeiçoamento artístico. Ímpar, como venho repetindo, é pouco para o conseguido em apenas 11 anos, diria atípico, pela positiva, dentro do panorama do ensino da música em Portugal, seja público, privado ou cooperativo. Notável, sem adjectivação quando comparado com outras escolas superiores se retirarmos os pianistas, sempre em excesso e de pouca utilidade no universo das orquestras!

Ora, esta é a herança a preservar, a impedir que seja deturpada, antes incentivada e acarinhada pelos poderes públicos. Para a maioria do público, Metropolitana é apenas uma orquestra, mas a verdade diz-nos que a realidade vai muito para além da Orquestra Metropolitana, aliás, esta nem teria, a meu ver, fundamento, sem ser integrada neste projecto já que seria uma 3ª orquestra residente em Lisboa, a par da da Gulbenkian e da Orquestra Nacional do S. Carlos.

É, sumariamente, este o desafio de quem vier a ter responsabilidades no futuro da AMEC! O momento é, felizmente, agora, de serenidade, de reflexão, sendo plausível que a Assembleia Geral consiga um compromisso unânime para o futuro. As inqualificáveis atitudes tomadas pela Câmara Municipal de Lisboa e pelo próprio maestro Miguel Graça Moura quase destruíram a realidade que descrevi e que, por si, orientou a minha conduta, pedindo o regresso do bom senso e da legalidade, tendo inclusivamente elogiado o trabalho calmo desenvolvido pelo Ministro da Cultura na busca do consenso mas, ou muito me engano, ou mais alguém, com grande sentido de responsabilidade e de Estado, sem procurar nenhuma espécie de protagonismo, encaminhou este rocambolesco folhetim para um mais que necessário epílogo, denunciado pelo espírito da carta aberta de Miguel Graça Moura, onde este parece recuperar o siso após longo período de notório desequilíbrio.

Ainda bem que Portugal ainda pode contar com pessoas desta estirpe, preocupadas em defender e promover o que de muito bem fazemos, impedindo que outros, cegos pela busca de interesses pessoais, não conhecendo limites para os seus intentos, arrastem para a lama pérolas como a AMEC.

Neste especial e ansioso momento, cumpre-me agradecer ao Rui Branco, à Catarina e ao Crítico a partilha desta preocupação e desejar as maiores felicidades aos vindouros, aqueles que receberão o privilégio de assumir os destinos da AMEC, tendo sobre eles o estigma da obra nada e criada por MGM. Exige-se, depois de todo este processo, que pior não façam e, ao assumirem este objectivo, tenham consciência que é extremamente ambicioso.